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Tetê Espíndola - Piraretã - 1980


Já há algum tempo que venho pensando em escrever sobre está artísta, mas o tempo e a vida de adulto não me permitem me dedicar o tanto quanto gostaria a esse trabalho, que amo fazer, faço sem apoio, sem patrocínio; é por prazer mesmo, gosto de partilhar o que é bom e ao mesmo tempo valorizar a quem deve ser valorizado e por muitas das vezes, infelizmente não é...

Hoje, onze de março, Teresinha Maria Miranda Espíndola, ou Tetê Espíndola, se preferir; completa 63 anos.

A artista é muito mais do que se pode ver "Escrito nas Estrelas" (título de seu maior sucesso); é uma canção marcante, todos lembram em muito pelo extensão vocal de Tetê; mas há muito dessa artista que merece ser revisitado (ou pela primeira vez visitado) e que creia, encanta!

Sua carreira começou como integrante do grupo "Luz Azul", grupo formado quando ainda bem jovem, contando com a companhia de seus irmãos, realizando apresentações pelo eixo próximo ao seu estado natal, Mato Grosso.

Tetê, que também é instrumentista e compositora, começou a se descobrir e também o que era capaz de fazer com sua privilegiada voz, segundo dizem, a menina em meio a toda a natureza da Chapada dos Guimarães começou dia após dia a aprimorar o seu cantar, chegando ao potencial incrível que neste álbum hoje apresentado, poderá ser notado; talvez também por conta da influência da natureza, que a artista tem um cantar que remete a um clima bucólico, algo lindo e sem uma palavra que possa definir, mas é nítido que há uma sinergia muito grande entre seu trabalho e a natureza, em especial nesse álbum, pela temática, instrumentos utilizados, arranjos e eis que saiu algo que gira entre o medieval e o regional; um álbum que eu mesmo já ouvi sentado no Parque Lage (situado no Rio de Janeiro), em um daqueles momentos necessários de solidão, mas sempre acompanhado da música; foi uma experiência onírica.

"Piraretã", este é o nome do segundo álbum da carreira solo da cantora. Em poucas palavras eu definiria está obra, hipnotizante? Encantadora? Usaria talvez mais meia dúzia de adjetivos e encerraria a postagem, mas vamos além, falemos sobre a obra...

A julgar pelo título do álbum, já se tem uma ideia ligada a origens indígenas, à natureza; não é a toa que além da voz de Tetê e de todos os que participaram desta obra atípica e instigante, se ouve o cantar dos pássaros em faixas, assim como outros elementos que só reforçam a tese da sinergia com a natureza.

Dando início aos trabalhos, com a faixa que da título ao álbum; composição de Marcelo Ricardo e Tetê, trata-se de uma canção com uma linha de baixo que conduz o andamento da canção, com intervenções pontuais de um violão de muito bom gosto; tem em sua concepção geral uma letra que fala sobre animais que habitam as matas, onde a artista já de cara mostra a que veio; é lindo demais de se ouvir, se permitir esvaziar a mente no limite do possível e ouvir essa canção soa como ser levado por Pedrinho, Narizinho e Emília; à uma aventura no "Sítio do Pica Pau Amarelo".

Diferente do que costumo fazer, citarei apenas algumas faixas, é um álbum que merece uma audição sem nenhuma influência pré-estabelecida, vale se permitir e viajar no uso de instrumentos em sua maioria "atípicos", como marimbas, harpas paraguaias, violas caipiras, rabecas e uma infinidade de instrumentos percussivos; além de arranjos vocais fantásticos, realmente fantásticos.

Há uma versão para "Refazenda" (Gilberto Gil), de extremo bom gosto, afinal mexer na obra de Gil não é para qualquer um, mas com muita competência Tetê e sua trupe fizeram e com louvores.

Agora pare! Pare e silencie! Apague as luzes ou se isole no mato, ouça a faixa "Melro" com atenção.

"Melro". Ouça Melro! Eu gostaria de não precisar citar que é uma versão de "Blackbird" dos Beatles.

Melro, um pássaro negro, Blackbird (pássaro negro); não sei você, mas achei a sacada genial desde a primeira vez que ouvi.

A versão ficou linda, onde no refrão ao invés do "Blackbird", Tetê substitui na letra por "Melro". Só ouvindo para entender...

Outro destaque, lembrando que vale ouvir o álbum inteiro mas é claro que algumas músicas soam como mantras e ficam ecoando na mente, é para a faixa "Tamarana" (Paulo Barnabé e Arrigo Barnabé), onde em meio ao cantar de Tetê e o andamento rápido em meio a tempos quebrados, ouve-se Arrigo (sempre genial) e seu falar em meio à letra um texto que é bem... Louco! E Arrigo é um louco genial, um "maldito" bendito da nossa música.

"Vida Cigana" (Geraldo Espíndola) é maravilhosa, ponto!

"Beija-flor" (Paulo César Campos e Geraldo Espíndola), encanta pela qualidade dos arranjos vocais, a exemplo das demais canções, mas essa tem algo e especial; carregar o nome de um pássaro é voar, se deixar levar. O beija flor tem o dom de "levitar" e é essa a sensação que se tem ao ouvir essa canção.

Não é um álbum de fácil audição, pois tamanho o esmero com o qual foi feito, que há uma necessidade imensa de se atentar aos detalhes, pequenos detalhes que impressionam pelo desejo de fazer algo diferente, pelo preciosismo musical (do bem, sempre do bem) que torna a obra uma surpresa a cada audição; eu mesmo ouço há mais de dez anos e volta e meia mesmo com os ouvidos treinados de músico, percebo um detalhe, um vocalize, um acorde, um arpejo... Algo que me faz querer de tempos em tempos ouvir com o pensamento de:

- Me deixe ver o que mais de novo e moderno eu posso descobrir em um álbum de 1980.

Conforme alguns adjetivos até supracitados: Medieval, místico, bucólico, regional, pantaneiro...

Está aí uma obra que todos precisam conhecer.

Faixas:

1 Piraretã (Marcelo Ricardo, Tetê Espíndola) 2 Cunhãtaiporã (Geraldo Espíndola) 3 Refazenda (Gilberto Gil) 4 Rosa em pedra dura (Geraldo Espíndola) 5 Melro [Black bird] (McCartney, Lennon) 6 Tamarana (Paulo Barnabé, Arrigo Barnabé) 7 O cio da terra (Chico Buarque, Milton Nascimento) 8 Vida cigana (Geraldo Espíndola) 9 Beija-flor (Paulo César Campos, Geraldo Espíndola) 10 Viver junto (Carlos Rennó, Tetê Espíndola) 11 Matogrossense (Carlito, Lourival dos Santos, Tião Carreiro) 12 Aratarda (Tetê Espíndola, Alzira Espíndola) Créditos:

Tetê Espíndola - (vocal, craviola, violão e percussão) Almir Sater - (violões, viola caipira e charango) Alzira Espíndola - (violões e vocal) Geraldo Espíndola - (violão e vocal) Sérgio Espíndola - (violão e vocal) Marcelo Espíndola - (vocal) Arrigo Barnabé - (vocal) Claudio Bertrami - (baixo elétrico e baixo acústico) Luiz Carlos Maluly - (violão e marimba) Zé Eduardo Nazário - (percussão) Bira - (percussão) Claudio Ferreira - (piano acústico) Oswaldinho do Acordeon - (sanfona) Demétrio - (flauta) Marília - (flauta) Oscar Garcia - (harpa paraguaia) Germano - (rabeca e violino).



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