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Donga e os 100 anos do Samba.

Neste ano de 2016, onde alguns enxergam apenas como o "Ano Olímpico no Rio de Janeiro", tem passado batido um fator muito mais interessante do que bater palmas por ver o país ser a puta do "COI - Comitê Olímpico Internacional", tendo em vista que as Olimpiadas, que se tornou "a menina dos olhos" na verdade veio muito mais para subtrair do que somar, enfim...

 

Em 2016, comemoramos os "100 anos do Samba", algo realmente nosso e que ninguém pode tirar, manipular ou dizer que só pode ser feito assim ou assado.

 

O Samba é um patrimônio cultural dos mais importantes que temos. Pelo país afora, assim como por todo o mundo, é admirado e temos a honra de bater no peito e dizer: É nosso!

 

Mesmo se tratando de uma maravilha que nos pertence, nada mais democrático e que não segmenta cor, sexo, opção sexual, grau de escolaridade; ou qualquer outro fator que normalmente acaba por segregar, o samba está aí e é para todos. Rodas de Samba se espalham por aí e é impossível não levantar os braços, cantarolar ou ao menos arriscar sambar, mesmo para aqueles que não levam muito jeito para a coisa.

 

Na data de hoje, 05/04, Ernesto Joaquim Maria dos Santos, conhecido como "Donga", completaria 126 anos de nascimento. Para quem não sabe, esse senhor foi o compositor do samba "Pelo Telefone", primeiro a ser gravado, sendo assim a primeira vez que o gênero foi também reconhecido como Música Popular Brasileira; tendo em vista o fato de o Samba ser oriundo das classes menos favorecidas e ligado à cultos afros, tanto que a composição aconteceu no terreiro de Tia Ciata (nome importantíssimo no mundo do Samba), localizado no bairro da "Praça XI" no Rio de Janeiro, em uma das rodas que promovia e contava com a presença de outros grandes músicos.

 

Donga compôs a canção, tendo sido registrada no dia 27 de novembro do ano supracitado, onde mais tarde incluiu como parceiro o jornalista Mauro de Almeida.

 

O fato de muitos músicos participarem das rodas, gerou uma série de contestações sobre quem seria o real autor da obra ou quantas pessoas de fato participaram do processo de composição, já que a melodia foi composta em meio a já citada roda que contava com mestres como Sinhô, Pixinguinha, João da Baiana; dentre outros.

 

A estrutura da canção é muito simples, em alguns pontos chega a parecer desordenada (o que leva a crer foi sendo composta por partes e depois montada na ordem que ficou conhecida) e por muitos hoje sequer é vista como um samba. Deixo a minha opinião sobre esta polêmica: O Samba, assim como todos os demais gêneros, teve um embrião e posteriormente foi sendo acrescido de outros elementos até chegar ao conceito que se tem hoje. Se formos levar ao pé da letra, a canção realmente seria até mais um maxixe do que um samba, por conta disso visto por muitos como um "samba-maxixe".

 

Para deixar ainda mais clara essa tese, podemos pegar tantos outros gêneros como o sertanejo de "Tonico e Tinoco" e comparar com o que foi feito pela geração de Zezé di Camargo & Luciano, Leandro & Leonardo; até chegar ao que se vê atualmente e chamamos de "sertanejo universitário". Por conta dessa variações, podemos dizer que Tonico e Tinoco e sua geração, não faziam música sertaneja? Um outro exemplo claro é o forró/baião de Luiz Gonzaga. Hoje em dia, muitos grupos não mais fazem apenas o uso da zabumba, sanfona e triângulo (o que pessoalmente me agrada muito mais) e incluíram bateria, teclados, contrabaixo, guitarras; criando o que o próprio nordestino chama de "Forró de plástico". Luiz Gonzaga e sua geração não faziam forró/baião?

 

Eis a questão! Tudo se transforma, evolui tecnicamente (as vezes até por conta disso tornando o moderno mil vezes pior do que o que era feito no passado) e ainda assim se não fosse alguém lá nos primórdios à dar início a algo, não teríamos chegado ao que se vê hoje.

 

Para fechar, volto a citar o aniversariante do dia. Infelizmente Donga morreu na pobreza, quase cego e passando seus últimos dias de vida na "Retiro dos Artistas" (instituição que recebe artistas já em sua maioria idosos e sem condições de se manter); aos 84 anos, no dia 25 de agosto de 1974.

 

Obrigado Donga e a todos os grandes mestres que nos deram o samba, sem o qual seria mais difícil viver, sem dúvidas. Citando um trecho de uma canção de Jorge Aragão:

 

 

 

 

 

 

"Boa noite, boa noite

 

Pra quem se encontrou no amor

Boa noite, boa noite

Pra quem não desencantou

 

Boa noite, boa noite

Pra quem veio só sambar

Boa noite, boa noite

Pra quem diz no pé e na palma da mão

Boa noite, boa noite

Pra quem só sentiu saudade afinal

 

Obrigado do fundo do nosso quintal..."

 

 

Segue link com uma das primeiras gravações da canção, sendo que a primeira foi uma apenas instrumental, sendo essa a primeira cantada, por "Baiano e Coro"  https://www.youtube.com/watch?v=woLpDB4jjDU

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