top of page

Leny Andrade - LP Estamos Aí (1965)


Lado B? Nem tanto, por mais que fora as canções mais conhecidas, existam registros sensacionais que poucos conhecem, hoje é dia de Leny Andrade, nossa diva do Jazz, que completa 74 anos de vida, muitos desses, para a nossa sorte, dedicados à música no mais explícito sentido da "excelência artística".

Me lembro como hoje, mesmo tendo sido no longínquo ano de 2008. Aconteceu na praia de Ipanema o espetáculo "50 anos de Bossa Nova", contando com a participação de nomes como Roberto Menescal, Oscar Castro Neves, Carlos Lyra, Wanda Sá, Leila Pinheiro, Emílio Santiago; além de alguns nomes da então "nova geração da MPB", contando com Fenanda Takai, Bossacucanova e Cris Delanno, Maria Rita; dentre outros.

Na última canção, os artistas se reuniram ao palco para juntos encerrarem o espetáculo (assumo que não me recordo qual foi a música escolhida), mas um fato curioso me chamou a atenção; aquela já senhora, pequena e que ficou nítido que faltaram microfones para todos, sem o mínimo pudor, pegou um pouco da captação de um, mais um pouco da de outro; e prevaleceu seu impressionante (e digno de estudos) alcance vocal e parecia que estávamos em uma íntimista casa para 50 pessoas, pois a voz de Leny era 100% audível, lembre-se que estamos falando da Praia de Ipanema e todos os muitos fatores que iam ali de encontro a qualquer conceito de acústica; mas há quem ignore tudo isso e apenas cante; e foi o que Leny fez e impressionado ouvi tudo aquilo, quase que só na garganta e a voz da nossa Diva do Jazz se fez presente com o vigor já conhecido em suas gravações e apresentações.

Leny fez parte da geração de ouro do "Beco das Garrafas" e segue hoje realizando apresentações maravilhosas. Que bom o tempo não passa para a artistas, pois ir vê-la nos dias atuais, segue sendo sinônimo de que ao cantar a última canção, o público segue com um ar desnorteado de como quem pensa:

- O que aconteceu aqui hoje?

Algo que nem tente, não há explicação, Leny é Leny e isso define tudo.

Hoje trago o álbum "Estamos aí - 1965", que contou com a produção do mito Eumir Deodato, (que também assinou os arranjos), tendo como alguns dos músicos responsáveis pelo maravilhoso trabalho, nomes como o do próprio Eumir e seu piano maravilhoso, J.T Meirelles, assumindo de maneira espetacular flautas e saxofones, Geraldo Véspar e Durval Ferreira nos violões (Durval, ainda falaremos dele nessa publicação): dente outros.

O álbum já começa com uma Leny, de então 22 anos anos e mesmo tão jovem já no ápice da maturidade musical, o que durante todos esses anos segue mantendo o mesmo nível e por isso seus shows ainda hoje são surpreendentes e maravilhosos.

Começando propriamente a comentar sobre o álbum, a primeira faixa é uma canção de autoria do outro homenageado do dia, Durval Ferreira, que se vivo, completaria na data de hoje 86 anos.

Durval, junto com Regina Werneck e Mauricio Einhorn; assinaram a faixa título que é um dos grandes sucessos da cantora e sinceramente! Ouvir da um nó na cabeça, mesclado a um sentimento quase que orgásmico; onde Leny usa e abusa de todos os seus muitos recursos vocais.

A canção é iniciada em uma levada altamente Bossa Nova, mas que reserva surpresas, pois no decorrer há uma variação de tempo absurda, onde em uma pausa feita pelo piano de Deodato, se cria uma base sólida, Meirelles e sua maravilhosa flauta fazem intervenções pontuais mas de um feeling musical impressionante; uma bateria que mesmo não tendo maiores informações sobre os créditos, não duvido que seja obra de Milton Banana ou Edison Machado, mas que independente disso é de suma importância, unido a um todo que permite à Leny mostrar do que é capaz, e já era naquela época, com uma perfomace avassaladora e que impressiona, sem dúvidas o sentimento que gera aos admiradores desta que é sem dúvidas é desde aqueles tempos já se tornava um dos grandes nomes da nossa música, levando a música brasileira ao mundo e sendo comparada a grandes nomes do Jazz Norte-Americano como Ella Fitzgerald, mas claro que com o "tempero" que só a nossa música tem.

"Clichê" é outra faixa que é assinada por Durval Ferreira, também em parceria com Mauricio Einhorn. Seguindo a linha dos compositores, e os arranjos minuciosos de Deodato, fica mais uma vez o registro do talento de Leny. Em palavras, sinceramente, não da para definir a grandiosidade do que só ouvindo para entender.

Mais uma de Durval, "Tema Feliz", em parceria com Regina Werneck. Está tem um ar mais Bossa, uma levada mais cadenciada, amena como "manda o figurino" do gênero que ainda hoje gera certo desencontro de informações, onde Johnny Alf dizia ter sido o responsável pelo embrião da Bossa, mas não há dúvidas de que "Chega de Saudades", de João Gilberto, foi o grande "bum!" do gênero, onde além da batida diferente que Milton Banana nesta gravação criou, gerando uma a concepção do que seria o modelo a ser utilizado por tantos do que seria a bateria nesse "novo gênero"; João pode até não ter criado em 100%, mas foi o gênio por trás do primeiro álbum que tinha como ênfase a Bossa.

Bem! Voltando à Leny, na canção supracitada, mesmo com a amena batida da Bossa, a artista não deixa de dar mostras de o que sua rara voz é capaz de fazer, com vocalizes lindos e geniais.

Um outro detalhe importante ao citar esse disco tem muito a ver com a história da música em um todo.

A Bossa Nova (que deu origem à "MPM - Música Popular Moderna), que nada mais seria que o início do Samba Jazz, era sim tido como um gênero peculiar às elites brancas da Zona Sul, mas nesse álbum Leny, mesmo como já dito, sendo "cria" do icÔnco "Beco das Garrafas", ou seja, tendo a Bossa no sangue, começou a flertar com o morro e o samba (gênero que foi "abafado" pelo fenômeno Bossa Nova e em muito foi resgatado graças ao trabalho do grande musicólogo Ricardo Cravo Albin), onde a cantora, mesmo que com uma levada muito mais Bossa, gravou o pot-pourri que continha as canções "Deixa o morro cantar" (Tito Madi) / "O morro não tem vez" (Tom Jobim / Vinicius De Moraes), "Enquanto a tristeza no vem" (Sergio Ricardo), "Reza" (Edu Lobo / Rui Guerra); com destaque para as obras de Tom e Vinícius, de Tito Madi e claro "Opinião" de Zé Kéti, canção que fazia parte do espetáculo de mesmo nome, onde o compositor em um nítido protesto, mostrou a realidade que era o movimento de desocupação dos morros, por parte dos militares e em pleno Regime Militar:

"Podem me prender Podem me bater Podem, até deixar-me sem comer Que eu não mudo de opinião Daqui do morro Eu não saio, não..."

Na canção "Banzo" (Odilon Olyntho / Marcos Valle), Leny aborda nitidamente a temática voltada para a causa negra, por meio dessa letra linda e não é novidade dizer que a interpretação de Leny é primorosa.

O álbum merece ser escutado com carinho é maravilhoso e reserva N surpresas, em especial pelo que Leny Andrade é capaz de fazer com o seu maior e mais eficaz instrumento, está voz rara e que ainda hoje está na estrada.

Nunca viu uma apresentação, ao vivo e bem de perto, de Leny? Não perca tempo! Faça isso a você mesmo e se encante com essa artista maravilhosa.

74 anos, que venham ainda muitos e possamos continuar a ser presentados com seu trabalho maravilhoso.

Ao mestre Durval, fica a homenagem póstuma e mais do que merecida.

Faixas:

01. Estamos ai (Regina Werneck - Mauricio Einhorn - Durval Ferreira) 02. A resposta (Marcos Valle - Paulo Sergio Valle) 03. Deixa o morro cantar (Tito Madi) / O morro nao tem vez (Tom Jobim - Vinicius De Moraes) / Opinião (Ze Keti) / Enquanto a tristeza não vem (Sergio Ricardo) / Reza (Edu Lobo-Rui Guerra) 04. Clichê (Mauricio Einhorn - Durval Ferreira) 05. Olhando o mar (Ronaldo Soares - Artur Verocai) 06. Banzo (Odilon Olyntho - Marcos Valle) 07. Samba de rei (Pingarilho - Marcos De Vasconcellos) 08.Tema Feliz (Durval Ferreira - Regina Werneck) 09. Razão de viver (Paulo Sergio Valle - Eumir Deodato) 10. Esqueça não (Tito Madi) 11. Samba em Paris (Nelsinho) 12. Coisa nuvem (Roberto Nascimento - Victor Freire)


Featured Posts
Recent Posts
Archive
bottom of page