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O Brasil e o fenômeno da Disco Music

A partir de meados da década de 70, um movimento artístico (já que na verdade foi muito além da música), surgiu e arrastou seguidores por todo o mundo; Disco Music.

Quando se vê filmes como "Os Embalos de Sábado à Noite", não se imagina que em muito não se possa identificar com o movimento e suas raízes, tendo em vista que o personagem principal "Tony Manero", era um garotão, conquistador e exímio dançarino do gênero. O personagem foi interpretado por John Travolta

(em grandiosíssima atuação, sendo assim o filme que impulsionou sua carreira), que é um ator branco, cidadão americano, hetero e claro, do gênero masculino.

Mas perae!
A origem do movimento se deu como uma contracultura, liderado por gays, negros, mulheres e latinos heterossexuais.

 

O intuito era a  valorização dos ritmos dançantes, exigência por espaço na mídia e mercado fonográfico, assim como realmente afrontar as famílias ditas "tradicionais", formadas por individuos dotados de todo o já estúpido e conhecido nacionalismo norte-americano, heteros, brancos; assim como a família de Tony Manero, que inclusive tinha um irmão padre que ao abandonar o celibato, chocou a família. O filme é interessante, mas não foi feito, lá, muito com o interesse de abordar o foco inicial do movimento.

A disco explodiu nos Estados Unidos com cantoras como Donna Summer, Gloria Gaynor, grupos como o assumidamente gay Village People, o drag queen Sylvester (primeiro artista representante desta classe a ter sucesso), os negros do Chic; mas acabou por romper barreiras e ser abraçado por artistas, e apreciadores, de todos os credos, nacionalidades, opções sexuais, gêneros e etnias; vindo a ser comercialmente e musicalmente, um dos movimentos mais profícuos da história, em especial da música.

As canções contavam, em sua maioria, com linhas de baixo fortes e marcantes, baterias que normalmente mantinham uma levada repetitiva mas extremamente funcional dentro do conceito harmônico, pianos e sintetizadores e guitarras extremamente ríticas, tendo grupos que chegavam a usar três em uma única canção.

Conforme já dito, a Disco Music conquistou o mundo, tendo inclusive subgêneros como a "Euro Disco", responsável por artistas como a virtuosíssima banda francêsa "Voyage", a fábrica de hits "Bonney M" (banda criada por produtores alemães, contando com quatro artistas das Índias Ocidentais) , os italianos do La Bionda, assim como o cantor Zack Ferguson e o renomado produtor Giorgio Moroder; assim como tantos outros.

Algumas bandas e artistas de sucesso internacional, conhecidos por serem adeptos de outros gêneros, também acabaram cedendo ao apelo popular e levantaram uma grana graças à disco. Bons exemples disso são os Rolling Stones (com o sucesso "Miss You"), Queen ("Another One Bites the Dust", inspirada na linha de baixo da canção "Good Times" do grupo Chic), Blondie com a clássica "Heart of Glass", os ultra roqueiros do Kiss com a canção "I Was Made For Lovin'You", Rod Stewart com um de seus maiores sucessos "Da Ya think I´m Sexy" e até o Pink Floyd com "Another Brick In The Wall (parte 2)"; Veja só como são as coisas...

Claro que a Disco não demorou a chegar no Brasil e também ganhar os seus representantes. Os Programas de apresesentadores como Carlos Imperial e Flavio Cavalcante, eram alguns dos grandes responsáveis por lançar artistas, em sua maioria de um único sucesso, como foram os casos de Dudu França ("Grilo na Cuca"), Lady Zu ("A noite vai chegar") e outros grupos com um pouco mais de sorte como "As Frenéticas".

Eis o ponto mais interessante! Quem você nunca imaginou gravando algo na moda Disco Music? Até os grandes nomes se renderam. Rita Lee teve uma fase altamente Disco Music (bons exemplos de canções são "Banho de Espuma" e "Chega Mais"), Ney Matogrosso com "Não Existe Pecado ao Sul do Equador" (versão para canção do mestre Chico Buarque e Ruy Guerra), Tim Maia lançou um álbum 100% dedicado ao gênero "Tim Maia Disco Club", Gilberto Gil e sua "Realce", Caetano Veloso com "Quero um baby seu"; dentre outros.

Até agora nenhum absurdo? De fato, não! Artistas versáteis, Ney, Caetano, Tim Maia já tinha aquela pegada funk e só deu uma ajustada, a camaleoa Rita Lee; mas...

Agora vem a cereja do bolo... Sabemos que existe um artista, tido como "O Rei"

e que todo ano tem um programa especial em uma emissora de procedência duvidosa, não usa roupas escuras, tem um cruzeiro, reside no bairro da Urca/RJ... Agora ficou mole! SIM! Roberto Carlos se entregou à Disco Music e pasmem, me arrisco a dizer que dentre todas as canções do gênero, produzidas no Brasil, ficou uma das mais interessantes e harmonicamente rica. Trata-se da versão de uma canção de Ronnie Von, "Pra ser só Minha Mulher", gravada no álbum de 1977, em que no refrão, quando menos espera, olha lá a influência; ou seja! Apostou e apostou bem, já que a Disco se tomou força mesmo um ano depois, conseguindo manter o sucesso até o início dos anos 80, quando foi literalmente engollida pelo movimento punk e... Isso fica para outra história, nem só de Sex Pistol e Ramones vive o punk, também temos nossos representantes no Brasil e prometo um dia falar sobre eles...

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