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Maria das Graças Rallo - Claudya

Cantora, compositora.

Vire o Vinil - Em primeiro lugar, uma honra tê-la como entrevistada. Eu sou um grande admirador da sua obra e artistas como você, me levaram a criar esse site. É necessário que mais gente conheça obras como as suas gravações.
Antes de mais nada! Seu nome de batismo é Maria das Graças Rallo. De onde surgiu "Claudia" e hoje "Claudya", com Y?

Claudya - Quando iniciei minha carreira em São paulo, julho de 1965, no antigo teatro Record, fui submetida a um teste e avaliada por uma equipe a equipe A, que resolveu mudar meu nome para Claudia na época com i, hoje com Y por acreditar na numerologia.

VoV - Alguma influência familiar, tem músicos na família, ou foi uma daquelas paixões avassaladoras que quando notou, já era parte de você?

Claudya - Na minha família todos gostavam muito de música. Meu pai gostava de tocar violão, minha mãe gostava de cantar, meus tios mais velhos também gostavam da arte, embora nenhum deles fosse artista renomado. Decidi me tornar cantora, depois de cantar em uma reunião em casa de um desses tios, quando senti um aplauso que me comoveu e impulsionou.

VoV - Você é uma cantora de voz versátil, consegue se adequar a "N" estilos e em todos com a mesma competência.
Há algum estilo musical com o qual mais se identifique e se veja inserida?

Claudya - Canto realmente com facilidade qualquer estilo, por ter sido crooner muito cedo, com 13 anos, ouvindo e cantando junto com artistas nacionais e internacionais, quando colocava os discos e ensaiava com cada um deles. Gosto muito do Jazz, do Blues, mas na verdade gosto de todos eles.

VoV - A pergunta é delicada, mas vamos lá! Você já ganhou uma série de prêmios, gravou disco no Japão... Mas no Brasil, sua carreira é reconhecida por muitos, mas não da maneira que deveria e merece. Você foi ao programa "O Fino da Bossa" e existem mil rumores, negativos, sobre a sua ida até lá e seu maravilhoso desempenho, que chegou a causar ciumes.
Isso é verdade? Você em algum momento se sentiu boicotada no Brasil, mesmo tendo lançado uma quatidade grande de discos de qualidade inquestionável?

Claudya - Tive realmente muita dificuldade em me projetar no cenário artístico, embora tivesse muito talento. Nunca me preocupei com as outras pessoas, mas sempre incomodei por querer uma performance rica em informações, tecnicamente perfeita e lutava para dar o meu melhor, o que ocasionou sim alguns contratempos com alguns colegas de profissão.
Minha carreira realmente não tomou o rumo desejado, mesmo ganhando vários prêmios para o país tanto no Brasil, quanto no exterior, me apresentando em vários países do mundo, gravando vários discos que fizeram um grande sucesso. O país me deve esse reconhecimento.

VoV - Você gravou canções de inúmeros compositores, muitos destes também cantores e de sucesso; Mas vejo que dentre os compositores os que mais gravou canções foram os irmãos Marcos Valle / Paulo Sergio Valle. Como surgiu essa parceria de sucesso, já que um de seus maiores sucessos "Com mais de 30", é uma obra deles?

Claudya - Conheci a dupla Marcos e Paulo Sergio Valle, através de Ronaldo Boscoli que nos apresentou, na época em que defendi da dupla a linda canção chamada "O amor é chama" no festival Internacional da canção. Quando fui contratada pela Odeon Emi tive um contato mais abrangente e próximo com esses notáveis compositores, gravando deles várias músicas que foram muito executadas nas rádios e chegaram a fazer um grande sucesso

VoV - O álbum "Pássaro Emigrante", foi onde você realmente investiu mais em composições próprias, já que foi inteiro feito em parceria com Chico Medori.
Como se deu o processo de composição? Canções que já vinham sendo feitas, esboços; ou realmente abraçou e ideia de um álbum mais "intimista" e se deu início ao processo?

Claudya - O "Passaro emigrante" surgiu de uma idéia que tive quando vivi durante quase um ano em Los Angeles nos Estados Unidos. De volta ao Brasil resolvi fazer uma homenagem aos artistas que precisaram sair do país para atingirem um vôo maior, caso de tantos que vivem por lá, e por lá fizeram a sua morada, com muito sucesso. O processo de composição eram idéias que surgiam à medida que o Chico Medori ia fazendo os acordes no violão. As músicas e letras iam sendo construídas no ato e vinham prontas. É um álbum muito diversificado, com mudanças de andamento, de estilos, e que foi avaliado por músicos como Hermeto Pascoal como um dos mais importantes álbuns feitos na época. Teve um destaque na revista Billboard como o melhor álbum brasileiro feito nos anos 80.

 

VoV - Quando você fala em artistas que foram obrigados a alçar vôos, se refere somente a essa necessidade de muitos, que infelizmente, deixam o país para buscar maior visibilidade e o devido reconhecimento ou também há alguma ligação com o contexto político que era vivido no período e obrigou uma série de artistas a deixar o país?

 

Claudya - Não, apenas pelo reconhecimento que não tiveram por aqui e que foram buscar lá fora. De uma certa forma foram exilados em seu próprio país. Alguns são até hoje, não polìticamente, mas por uma questão de politicagem, de sabotagem, de panelinhas. Entende?

 

VoV - Como surgiu a ideia de gravar um álbum inteiro dedicado às canções de Taiguara? Vocês chegaram a de fato ser muito amigos ou foi uma homenagem a um artista, recém falecido, e que tinhas grande admiração?

Claudya - Conheci Taiguara ainda em final dos anos 60, na casa do grande compositor Adylson Godoy. Fiquei encantada com o talento do grande compositor, cantor, músico e arranjador. Nos tornamos grandes amigos desde então e nos anos 70 fui convidada por ele prá gravar o tributo à Leila Diniz . Nos anos 90 fui contratada pela extinta RGE e tive a idéia de fazer um cd com obras do grande compositor, poeta e amigo.

VoV - Como foi ver um artista tão popular, hoje, em especial entre os jovens, Marcelo D2 ( que usou como música incidental a canção "Deixa eu Dizer", gravada por Claudia em 1973), incluir essa canção em uma de suas gravações e gerar aquele sucesso estrondoso? Vocês chegaram a conversar sobre? O que ele alegou para a escolha dessa canção?

Claudya - Foi uma grande surpresa quando ouvi o sampler da música "Deixa eu dizer" na interpretação do Marcelo D2. A nova geração aplaudia muito os trabalhos feitos por ele. Minha filha e sua turma, os então adolescentes da época gostavam muito dele. Foi realmente um sucesso espetacular, o que me aproximou da nova geração que não sabia exatamente do que se tratava, quem era a cantora que interpretava a música. Partindo daí começaram a procurar outras gravações minhas, muitos deles me conheceram através do Marcelo e hoje todo o meu trabalho é amplamente divulgado, conhecido e admirado por esses jovens. O Marcelo conheceu o LP "Deixa eu Dizer" através de um amigo e gostou de cara passando a escrever o texto imediatamente. Foi paixão à primeira vista pelo som, que ficou realmente espetacular, hoje é uma música conhecida no mundo inteiro, através do filme "Velosos e furioso" 5, que foi feito no Rio de Janeiro.

VoV - E hoje, a rotina de shows? Tem focado mais em São Paulo, onde mora, ou anda viajando o Brasil? Quando vem nos prestigiar no Rio de Janeiro?

Claudya -  Sou carioca e quase não vou ao Rio. Vivo há muitos anos em São Paulo, onde atuo com mais frequência. Ainda não sei quando irei ao Rio, mas espero que seja o mais rápido possível.

VoV - Como enxerga o cenário musical atual, a inclusão de toda essa tecnologia que acaba "fabricando" bons cantores e cantoras de estúdio e que deixam a desejar ao vivo? Alguém do cenário novo te chama a atenção?

Claudya - Sinto falta de cantoras na acepção plena do termo. Acho que todas cantam com a mesma intensidade ou seja sem a interpretação densa  que mexe comigo. São todas mornas. Algumas cantam bem, mas não chegam a me convencer ou emocionar, por isso fica difícil falar sobre alguém, ou apontar um nome.

VoV - Agradeço muito por essa oportunidade, mais uma vez digo o quanto sou fã de sua obra e de tê-la como entrevistada.
Gostaria de deixar uma mensagem, agenda, contatos para shows... rs Fique à vontade.

Claudya - Eu é que agradeço muitíssimo essa oportunidade que você me deu de contar um pouco da minha história, falar sobre a minha trajetória artística que no ano de 2015 completou 50 anos de existência. Muito obrigada.
 

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