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Os dez maiores álbuns, brasileiros, de todos os tempos

Por: Vire o Vinil


Em especial, nos dias atuais, divergências de opiniões vão desde o simples gostar, ou não, do que esteja relacionado ao cenário cultural, até o que se vê atualmente no cenário político, sobre o qual prefiro não tecer comentários.

Eleger os dez maiores albuns dentre um cenário musical que é tido como, senão o mais, um dos mais valorizados do mundo, que é a MPB, não é tarefa fácil.

A profícua música nacional tem obras que realmente ditaram tendência e foram responsáveis por influenciar muito do que se vê ainda hoje, outras merecem destaque pelo grau de invencionismo, outras de tão inusitadas fogem de todo e qualquer conceito e por isso merecem ser vistas como revolucionárias e por aí vamos dando destaques a certas obras pelos mais diversos motivos.

Esse tema geraria uma grande discussão, que talvez se tornaria um debate; mas como essa não é a intenção e o site tenta ser o mais versátil possível e abrir portas para todos os gêneros; trata-se apenas de uma análise, onde talvez seja interessante ouvir com carinho aquele álbum que não se conheça ou até lembrar de alguns, dentre tantos já esquecidos porém admirados e reviver um pouco do passado.

10 - Cinema Transcedental - Caetano Veloso - 1979

O fato de ser um artista, ainda hoje, extremamente ativo em sua carreira, lançando com grande frequência álbuns novos, sendo alguns adorados e outros odiados, utilizando formações inusitadas, como o power trio que o acompanhou nos três últimos trabalhos, assim como o excêntrico e experimental "Araça Azul (1973), em que Caetano se trancou em um estúdio e fez um dos álbuns mais intimistas da história da nossa música, gravando a maior parte do álbum sozinho; acompanhado por uma orquestra em "Fina Estampa" (1994) e por aí vai. Só está sujeito à críticas quem tem personalidade o suficiente para experimentar o novo e Caetano vive a se reinventar, sendo por conta disso um dos maiores artistas brasileiros.

"Cinema Transcendental é um primor de álbum, o primeiro que gravou com "A Outra Banda da Terra", banda formada por Arnaldo Brandão (baixo), Vinícius Cantuária (bateria, violões), Tomás Improta (pianos, fender rhodes, flauta de bambu) e o saudoso amigo Perinho Santana (guitarras). Não vi até hoje melhor formação de banda na carreira de Caetano, também por conta disso esse álbum é tão especial.

Recheado de Sucessos como "Lua de São Jorge", "Oração ao Tempo", "Beleza Pura", "Menino do Rio" e "Trilhos Urbanos"; já seria o suficiente para tornar o álbum diferenciado, mas há algo a mais, algo que talvez não possa ser explicado ou talvez expressado em palavras. Ouça e tire suas conclusões.

 

Link para o Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=UZLGoz4MMj4&index=40&list=PLVqpnzWFdkZ1Ba1pWw_HMV51Mq51m2u29

 

 9 - Maria Fumaça - Banda Black Rio - 1977

Este álbum que é 100% instrumental, tem uma swingueira absurda. A banda mesclava como ninguém um poderoso naipe de metais, com as linhas de baixo perfeitas do onipresente Jamil Joanes, unido à guitarra extremamente competente de Claudio Stevenson e uma série de instrumento tipicamente regionais, criando uma espécie de "Funk/Soul com tudo".

Se ouve triângulos, cuícas e mais uma infinidade de instrumentos cirurgicamente fundidos com essa união que faz deste álbum um divisor de águas. Depois de "Maria Fumaça", a música Black no Brasil, jamais seria a mesma.

Já foi publicada, também, uma postagem sobre este álbum no site, basta procurar e saber maiores informações.

 

Link para postagem no site: http://www.vireovinil.mus.br/#!Banda-Black-Rio-Maria-Fumaça-1977/czfb/56ce54500cf29064e5f0d925

 

Link para o Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=O6RQnyDS9xg&list=PLVqpnzWFdkZ1Ba1pWw_HMV51Mq51m2u29&index=41

8 - A Bad Donato - João Donato - 1969/70

Sobre esse álbum, assumo que preciso ter cuidado antes de tecer qualquer comentário. Na minha humilde opinião, João Donato pertence à trindade santa da Música Popular Brasileira, justamente por trabalhos como este álbum, onde todas as canções são de composição do mestre João.

O álbum não foi gravado no Brasil, porém teve todos os seus arranjos feitos pelo grandioso, e infelizmente pouco conhecido aqui e aclamado no mundo, Eumir Deodato.

Trata-se de um trabalho 100% instrumental, altamente jazz fusion, funk; já com um visionário João Donato, usando e abusando de recursos eletrônicos.

"A Bad Donato" não precisa de letras, sua sonoridade única mostra a alma musical do artistas, em composições lindas como uma versão bem diferente da que se conhece para a canção "A Rã", a BELÍSSIMA "Celestial Showers"; o tipo de canção que emociona, leva cada qual a uma viagem particular, uma experiência única.

Dentre todas a que verdadeiramente mexe comigo, faz parte da minha história e assumo volta e meia ainda brota uma lágrima ao ouvir, é a canção "Cadê Jodel", uma homenagem à sua filha de nome Jodel.

No ano de 1972, João Donato se divorcia e acaba optando por retornar ao Brasil, deixando em Nova York, com sua ex-esposa, sua filha Jodel. A canção, posteriormente, ganhou uma letra composta por Marcos Valle, onde a temática foi toda voltada para o "gostar e a saudade" de Donato pela sua filha que estava então tão distante.

O álbum tem a assinatura do gênio, é lindo por completo e merece ser escutado por toda uma vida...

 

Link para o Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=fYFEnbKGZLk&list=PLVqpnzWFdkZ1Ba1pWw_HMV51Mq51m2u29&index=42

7 - Sociedade da Grã-Ordem Cavernista apresenta: Sessão das Dez - 1971

Esse álbum é uma sandice! Vinhetas pra lá de inusitadas, toda a ironia do quarteto liderado por Raul Seixas, contando com o espalhafatoso Edy Star, o introspecto Sérgio Sampaio e a mocinha do grupo, Miriam Batucada.


Mil histórias giram em torno dessa excêntrica obra, até que foi gravado às escondidas (o que já foi desmentido).
Letras repletas de muito sarcasmo, fanfarras, sons de descarga (aquela mesmo que temos em nossos banheiros); formando grandioso espetáculo circense/musical.

Toda loucura que gira em torno desse álbum é na verdade um trabalho genial e que merece ser admirado.
Há uma postagem sobre esse álbum no site, basta procurar e saber mais sobre esse caricato trabalho.

 

Já postei este álbum no site. Se quiser conhecer mais e saber sobre outras curiosidades:

 

Link do site: http://www.vireovinil.mus.br/#!Sociedade-da-GrãOrdem-Kavernista-Apresenta-Sessão-Das-10-1971/czfb/566ba3d30cf2beecdd844342

 

Link para o Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=fZr0kSD4bIo&index=35&list=PLVqpnzWFdkZ1Ba1pWw_HMV51Mq51m2u29

6 - A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado

Os Mutantes - 1970

Falar de Os Mutantes é mais do que só falar de música. Estiveram diretamente ligados ao movimento da Tropicália e junto com Caetano, Gil; e tantos outros, fizeram história.

Este álbum contém sucessos imortais como "Ando Meio Desligado", a melancólica "Desculpe Baby", a longa e genial "Meu Refrigerador não Funciona", tendo no início uma inspirada Rita Lee esbanjando seu inglês ao melhor estilo "Janis Joplin", mas o destaque fica para a segunda parte, onde de maneira desesperada, sofrida e fazendo um belíssimo trabalho, de posse de seu Órgão Hammond, Arnaldo aos berros grita a angustia de ter um refrigerador que não funciona. A letra não foge muito dessa temática, mas quando o cara é genial, o simples ganha ares grandiosos e foi justamente isso que Arnaldo fez dessa canção.

Na canção "Jogo de Calçada", que começa com um ar bem regional nordestino, fica o destaque para o ainda jovem mas já virtuoso Sérgio Dias e suas guitarradas, em "Haleluia" todo um clima de coral de igreja, com o som do orgão de Arnaldo e as intervenções do baixo de Liminha, casam perfeitamente com o lírismo do arranjo vocal construído pelo grupo. Em determinado momento surge a bateria de Dinho e aí mesmo que a canção ganha ares grandiosos.

Por fim, como não falar sobre a versão fanfarrônica que Arnaldo dá para a clássica "Chão de Estrelas (Orestes Barbosa / Sílvio Caldas)". Ao melhor estilo seresteiro, Arnaldo faz uma sátira das mais engraçadas, com todas as nuances características dos cantores do gênero. Aquele "R" forçado, as variações na entonação... Até que na segunda parte a avacalhação fica completa, uma canção ao melhor estilo cabaret de filme Western, com direito a sonoplastias, de fundo, devidamente aplicadas a cada trecho da canção e um fim hilário. Arnaldo é um mito! E esse álbum mostra isso.

 

Link para o Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=UFcVYilMOKo&index=43&list=PLVqpnzWFdkZ1Ba1pWw_HMV51Mq51m2u29

5 - Aquarius Y Luiz Antonio - Brasil - 1973

Esta talvez seja a grande surpresa da lista, mas sem dúvidas merece estar aqui e peço que não deixem de ouvir.
Se eu tivesse que definir esse trabalho com uma palavra, seria "Ousadia". O álbum gravado parte no Brasil e parte em Barcelona, é fruto do trabalho de um grupo de jovens músicos, que durante mais de um ano seguiram pela Europa fazendo um enorme sucesso, justamente por conta desta gravação.

 

Muitos destes nem sequer voltaram para o Brasil, o que para nossa música é uma pena. Trata-se de um álbum que é formado por releituras espetaculares de canções que na época eram sucesso por aqui nas vozes de grandes nomes como Elis Regina (Sonhos), tiveram a coragem de dar uma nova, e maravilhosa roupagem, para "Que nem Jiló" (Luiz Gonzaga), transformaram em algo ultra psicodélico e virtuoso, colocando à prova a grandiosa qualidade dos músicos envolvidos no projeto, o grande sucesso do Rei Roberto "Se Você Pensa", tornando a canção quase que irreconhecícel; onde dentre outras "audacias espetaculares", consta uma versão para "Água de Beber" (Antonio Carlos Jobim / Vinícius de Moraes) que ao menos pra mim que já ouvi dezenas de regravações, digo sem medo que essa é tecnicamente a mais perfeita, acredite!

 

Já fiz uma postagem sobre este álbum, da para ler mais sobre, assim como entrevistei o amigo Tavynho Bonfá (Guitarrista que participou das gravações) que contou N curiosidades sobre esse projeto. Desconheço um álbum de releituras mais perfeito do que esse. Ouça e comprove o motivo pelo qual entrou nessa lista...

 

Link para a postagem no site: http://www.vireovinil.mus.br/#!Reescrevendo-Aquarius-Y-Luiz-Antonio-Brasil-1973/czfb/567c4a760cf2c2b77990c5d2

 

Link para a entrevista com Tavynho Bonfá: http://www.vireovinil.mus.br/#!blank/ascqq

 

Link para o Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=OnZU1mpaoik&index=2&list=PLVqpnzWFdkZ1Ba1pWw_HMV51Mq51m2u29

4 -Tropicalia ou Panis et Circencis - 1968

Este álbum é mais do que música, mas sim o início de um dos movimentos mais importantes já construídos no Brasil, a Tropicália.


Uma reunião de Bacanas, contando com Caetano, Gil, Gal, uma Nara Leão recém "convertida" que acabara de sair dos braços da tradicional Bossa Nova, Os Mutantes, Tom Zé, os poetas Capinam e Torquato Neto; tudo isso sob a regência do grande maestro Rogério Duprat.

 

A Tropicália foi mais do que um movimento político, mas um manifesto que conseguiu por meio de N artistas inserir no cenário cultural novos elementos, além de ter sido uma grande mostra do que é a contracultura que sacudiu a cabeça de uma juventude e abriu os olhos, para que não ficassem no marasmo do "politicamente correto".

 

Este álbum conta com canções emblemáticas como "Miserere Nóbis" (Gilberto Gil), "Parque industrial" (Tom Zé); que são claras críticas ao sistema, às mudanças que chegaram e as que estariam por vir, a quebra da alienação que se tinha pelo que eram as promessas, ordem e moralismo; impostos pelo regime militar e todo o seu escroto ufanismo.

 

Ouça com atenção, se preciso mais de uma vez e entenda como essas mentes brilhantes conseguiram transformar em música um nítido protesto e conceito de conscientização.

 

Link para o Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=L9OI3IamK-Y&list=PLVqpnzWFdkZ1Ba1pWw_HMV51Mq51m2u29&index=44

 

3 - Chega de Saudades - João Gilberto - 1959

O álbum em que João Gilberto e sua maneira, até então, única de tocar; inventou a Bossa Nova.


Não é exagero álgum dizer que ele é o pai da criança, por mais que o grande Johnny Alf tenha durante anos "reinvindicado" por tal paternidade, mas o que Johnny fazia era muito mais próximo do jazz do que dessa tal batida diferente que João criou e influenciou toda uma geração, inclusive artistas que sempre estiveram fora do contexto da Bossa.

 

Link para o Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=EQC4Ye7hr9Y&list=PLVqpnzWFdkZ1Ba1pWw_HMV51Mq51m2u29&index=45

2 - Acabou Chorare - Novos Baianos - 1972

Quando o bando de baianos se reuniu e resolveram colocar os sotaques de Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor e Baby do Brasil, em sintonia com todo o virtuosismo da guitarra de Pepeu Gomes, toda a poesia de Luiz Galvão, a vigorosa bateria de Jorginho Gomes, todo o swingue da percussão de Baixinho; e encontraram no baixista carioca Dadi o fator que faltava para completar aquela cozinha que viria a ser perfeita, surgiu um dos grupos mais influentes e importantes da história da nossa música.

 

Canções que tinham a baianidade da voz de Baby (na minha opinião uma das mais belas da MPB), unidos a uma mistura de Rock, triângulos, dobras violentas e um Pepeu mostrando o motivo pelo qual é um dos maiores guitarristas do mundo, como na canção "Tinindo Trincando"; a harmonia linda criada pelo violão de Moraes Moreira que aos poucos vai ganhando tamanho vigor em o clássico "A Menina Dança".

 

Não há como deixar de citar a versão para "Brasil Pandeiro" (Assis Valente), novamente com destaque para o violão perfeito de Moraes Moreira e o encontro das três vozes do grupo (Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor e Baby do Brasil), resutando em um samba lindo. Por fim, "Mistérios do Planeta" com sua letra forte e interpretação impecável de Paulinho Boca de Cantor e a clássica "Besta é Tu", onde de maneira bem humorada, Moraes Moreira mostra o quão besta é aquele que não vive esse mundo.

 

Álbum maravilhoso! Um verdadeiro clássico necessário na listagem de qualquer verdadeiro amante da nossa música.

 

Link para o Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=JlmmaqWrUUU&index=46&list=PLVqpnzWFdkZ1Ba1pWw_HMV51Mq51m2u29

1 - Clube da Esquina - 1972

O povo de Minas! É incrível o que essa galera conseguiu fazer, em especial na década de 70; onde justamente um grupo de jovens músicos e amigos, conseguiram à partir de encontros em uma hoje famosa "esquina" na cidade de Belo Horizonte, criar uma obra que na minha visão é o que de mais perfeito já foi produzido no cenário musical nacional.

 

O álbum foi creditado a um Milton Nascimento (que vivia o ápice da carreira) e um jovem e talentoso menino chamado Lô Borges; mas além desses, grandes nomes como Wagner Tiso, Novelli, Toninho Horta, Beto Guedes, Ronaldo Bastos, Fernando Brant... Foram fundamentais para o nascimento desse clássico da nossa música.

 

Desde a arte da capa do álbum que é duplo, com a mítica imagem de dois meninos, um negro e um branco, sentados à beira de uma estrada, a capa dupla interna que conta com uma colagem linda de fotos de participantes do projetos e amigos do grupo; até o conteúdo músical que pode ser escutado nas 21 faixas, divididos em dois discos.

 

Um álbum à frente de seu tempo, pela complexidade dos temas, mesclando à MPB com sonoridades altamente progressivas, psicodélicas; criando uma maravilhosa miscelânea de sons. Todo o virtuosismo de Wagner Tiso, Beto Guedes e o excelente Toninho Horta foram colocados à prova, o timbre único da voz de Lô Borges e Milton Nascimento em um período onde sua voz era tida como um instrumento musical, de tão perfeita; são elementos que fazem desse álbum único e uma obra que acredito jamais será superada...

 

Link para o Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=frq70agiADY&index=47&list=PLVqpnzWFdkZ1Ba1pWw_HMV51Mq51m2u29

 

A missão foi árdua, sofrida. Pensei em tantos álbuns que mereciam estar nessa lista que eu seria capaz de fazer dezenas de artigos como estes, enumerando álbuns diferentes. "Quem é Quem - João Donato", "Samba Esquema Novo - Jorge Ben", "Stone Flower - Tom Jobim", "Mudei de Ideia - Antonio Carlos e Jocafi", "Imyra, Tayra, Ipy - Taiguara", "Di Melo - Di Melo", " Garra - Marcos Valle", "Alvoroço - Leny Andrade", "Verde, Amarelo, Anil, Cor-De-Rosa e Carvão - Marisa Monte"... E tantos outros sobre os  quais eu passaria horas escrevendoo, mas na difícil missão de escolher apenas dez, está aí...

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