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O Misticismo e a MPB

Houve um período na história da música, não apenas aqui no Brasil, onde muitos músicos buscavam "apoio" em seitas e religiosidades pra lá de duvidosas.
Em sua grande maioria, isso virou febre a partir de meados da década de 60. Grandes nomes como os Beatles, tinham em gurus a busca pelo bem viver, no caso dos quatro rapazes de Liverpool, o escolhido foi o indiano Maharishi Mahesh Yogi, que fundou a "Meditação Transcendental" e de cara chamou a atenção de George Harrison, que logo levou os demais companheiros.

Mozart, Pink Floyd, The Beatles... E tantos outros artistas sempre usaram a música em prol de suas mensagens extremamente subliminares, justamente por saber o poder que a música pode ter e como influencia a muitos com suas ideologias, doutrinas e modo de vida adotados por seus artistas.

Aqui no Brasil, temos casos de álbuns, em sua maioria clássicos, carregados de elementos ocultos, alguns mais explicitos e outros que apenas como bom ouvinte de música, sem que se tenha conhecimento do que havia por trás, sequer se tem ideia da quantidade imensa de símbolos e mensagens.

Vou enumerar alguns álbuns e tentar contar um pouco sobre a história que os cerca, tudo baseado em pesquisas que realizo já ao longo de anos e acho que é interessante partilhar.

Talvez os mais ortodoxos retirem esses álbuns de suas estantes ou relação de canções favoritas, eu particularmente sigo ouvindo cada um deles, pela musicalidade de altíssimo nível, que em nada me contagia com os seus "intuitos reais".

                                  Tim Maia e a Imunização Racional.

    ("Tim Maia Racional, Vol. 1 - 1975" e "Tim Maia Racional, Vol. 2 - 1976")

Tim era um doidão, dos mais conhecidos e assumidos que a nossa música já teve o prazer de ter. De um talento inegável, mas também conhecido pelos seus rompantes e mil e uma histórias.

Há pouco tempo, com o lançamento do filme (transformado em série pela emissora da família Marinho), algumas histórias que giram em torno de seus feitos foram contadas. Uma das mais interessantes foi a dos álbuns "Tim Maia Racional vol. 1 e vol. 2", onde veio a tona, e se tornou de conhecimento público o seu envolvimento com seita filosófico-religiosa "Cultura Racional", que o mesmo impôs aos seus músicos, com a ameaça de desligamento da banda. Sem drogas, apenas roupas brancas, dormir cedo e sexo apenas para a procriação; Esse era o novo Sebastião (nome de batismo de Tim Maia) "imunizado".

A seita é derivada da umbanda e foi criada na década de 30, pelo médium carioca Manoel Jacintho Coelho. Durante muitos anos, as vertentes religiosas, oriundas da África, foram menosprezadas e marginalizadas e com a "Cultura Racional", por meio de “Intelectuais da Umbanda”, houve a tentativa de desassociar os vínculos africanos e até mesmo se recusarem assumir se tratar de uma linha religiosa, fazendo como tantos outros que dizem fazer parte apenas de uma "linha filosófica diferenciada", o que até soa mais bonito e acaba chamando a atenção daqueles que por algum motivo não conseguem se ver dentro de uma religião.

Ao contrário das linhas assumidamente religiosas, que mantém templos onde recebem seus seguidores, a seita supracitada denominava seus locais de encontro como "Salinhas", espalhadas por diversos locais, onde médiuns recebiam entidades, que ainda assim alegavam não ter ligação com o espiritismo e davam "consultas" aos seus fiéis seguidores.

As vestimentas eram brancas, assim como as da umbanda, mas a alegação que dava um tom diferenciado era de que o branco "traria o bem" e por conta disso era a cor eleita para os seguidores da seita.

A cultura racional, segundo seu fundador, era tida como a solução para os males da humanidade por meio do desenvolvimento do raciocínio, por meio da natureza e de onde veio, porque veio e o retorno à sua origem, sendo que para os seguidores, a morte não era o fim, onde todos os seguidores permaneceriam entre nós, mas desprendidos dos preceitos e as necessidades da vida orgânica; conhecimento adquirido por meio da leitura de seus livros, fonte da doutrina.

Bem! Agora que esclarecemos um pouco do que se trata a seita, sabemos no que Tim Maia se meteu, chegando a doar a renda que tinha por meio de shows e dos dois álbuns (que musicalmente são o ápice de sua carreira), para a "manutenção" da seita.

Essa foi a fase em que Tim Maia ficou "limpo", parou de beber, usar drogas e viveu durante esse período apenas para o proselitismo em forma de canção, tendo em alguns trechos do álbum a sua voz dizendo em alto e bom tom: "Leia Universo em desencanto".

Ao ver que estava quebrando e que como ele mesmo chegou a dizer depois "era a maior furada", o Tim malucão voltou a ser ele mesmo e a partir daí, o resto é história...


                                Paulo Coelho + Raul Seixas = Gita (1974)

A dupla citada é bem conhecida por todo o mistério que circunda suas obras. Um se diz bruxo, escritor, jura que é capaz de ficar invisível, além de se dizer alquimista; foi presidente da "Fundação Cacique Cobra Coral" (Uma instituição pseudocientífica, que se diz orientada pelo Cacique Cobra Coral, espírito que teria sido de Galileu Galilei e Abraham Lincoln e que "prestam serviços" por meio de seus poderes "místicos" para instituições e empresas, tendo como exemplo Roberto Medina, que não marca um "Rock in Rio" sequer, sem antes consultá-los e pasmem, prefeituras do Rio de Janeiro e São Paulo; que pedem aos médiuns da fundação que "controlem" o tempo afim de evitar eventos climáticos que possam vir a causar tragédias, (você paga por isso e nem sabia...) e o outro era Raul Seixas, que acho dispensa maiores comentários.

Bem! Voltando ao álbum... A começar pelo título do álbum, e canção de mesmo nome que é o maior sucesso, foi inspirado em antigos textos sagrados hinduístas, "Bhagavad-Gita", que relata o diálogo de Krishna, na condição da suprema face de Deus e senhor de toda a verdade absoluta, com seu discípulo guerreiro, em pleno campo de batalha.

O trecho "Eu Sou", que é dito na canção vinte e duas vezes, na verdade é um mantra de autofirmação, buscando assim ligar o indivíduo com seu "Eu superior" com o intuito de se desapegar do ego, característica humana, sendo assim cingido apenas da divindidade que o circunda. Vinte e dois também é na astrologia o número que simboliza o idealismo prático, que visa negar as influências exteriores, levando o indivíduo a se desapegar daquilo que o afasta do "divino". O número vinte e dois tem também outras associações, tal como os "22 arcanos do tarô", assim como também são vinte e duas as letras do alfabeto hebraíco (que pode ser ligado ao "Sêfer Yetsirá", texto ligado ao cabala judaíco), sendo vinte e dois os caminhos a serem percorridos na árvore cabalística.

Outra canção, do mesmo álbum, que também merece atenção nesse sentido é "Sociedade Alternativa". A canção tem muito de divagações teológicas e místicas e foi escrita com bases nos ensinamentos de Aleister Crowley, que foi membro da "Ordem Hermética da Aurora Dourada", sociedade secreta criada na Inglaterra, altamente ligada ao ocultismo e criador da ordem mística filosófica "Thelema", da qual Paulo Coelho era seguidor e iniciou Raul Seixas, dando início assim à amizade e parcerias musicais.

Toda essa tese é altamente ligada à cosmologia, ocultismo, magias e rituais, metafísica... E só por aí acho que já ficou claro que a canção aborda temas muito mais complexos do que se possa imaginar...  


 

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