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Os Pilantrocratas - Pilantrocracia - 1968


Os Pilantrocratas. Esse é um daqueles trabalhos que faz jus ao objetivo do site, "tirar a poeira" de trabalhos maravilhosos que já foram produzidos na nossa música e simplesmente foram esquecidos, talvez hoje encontrados nos sebos espalhados por aí, feiras de vinis ou com muita sorte, nas mãos de um daqueles tiozinhos que vendem LPs pelas ruas, normalmente encostados na parede e sequer sabem muitas das vezes o tesouro que tem em mãos. Mas vamos com calma, tem história para contar, claro! Antes de o tema abordado ser o álbum supracitado, muito há de se esclarecer... Final da década de 60, uns eram da Jovem Guarda, outros mais chegados à Tropicália, rolavam altas sonoridades gringas por aqui, com influências da Black Music americana (em particular o Soul), tinha uma Bossa Nova em fase de "transformação" para o que alguns chamaram de

"MPM - Música Popular Moderna" (que chegou inclusive a ser o título dado a um álbum lançado pela grande Flora Purim), mas que na verdade já era digamos que um "prefácio" do Samba Jazz; ou seja! Muita coisa acontecendo, um momento que mesmo em meio aos anos de chumbo que haviam acabado de se instalar (sem que sequer tivessem sido convidados), havia sim uma grande ebulição cultural se formando. Heim?! Se vamos falar de Wilson Simonal? Vamos sim, claro! E digo o motivo! Simonal era genial, isso é um fato que nada e nem ninguém pode jamais sequer pensar em dizer que não.

Cometeu erros, andou com quem não devia, foi muito usado e depois literalmente descartado, onde acabou por ser ignorado pela esmagadora maioria dos colegas músicos, que acreditavam realmente que ele era o tal "X9", bem! Eu acredito piamente que se por ventura o fez, foi mais para aparecer e tirar aquela onda de "Sou o cara, ando com os caras, ninguém encosta em mim", do que por ser canalha, pilantra sim, canalha não! Ah sim! Aproveitando a deixa que eu mesmo me dei, vamos entrar no tema e falar da "Pilantragem". Simonal tinha ao seu lado um dos caras mais geniais da história do entretenimento no Brasil, um visionário nato; Carlos Imperial. O cantor que estava ali, primeiro negro a alcançar estrondoso sucesso no nosso cenário musical, tinha o público nas mãos, fazia todo mundo cantar "Meu limão, meu limoeiro...", tinha um programa de TV (o primeiro negro a ser de fato protagonista em um) era um mestre de cerimônias incrível; mas parece que queria ir além e um movimento "para chamar de seu". Simona usava o termo "pilantragem" com frequência em suas conversas informais com amigos e vendo aquela brecha ali em meio a tudo que estava fluindo, pediu para que Carlos Imperial, sendo genial como já dito e dono de grandes sacadas, criasse um movimento; e assim surgiu a PILANTRAGEM. Segundo o próprio Imperial chegou a dizer, a primícia do termo era: - Pilantragem é a apoteose da irresponsabilidade consciente. Definição melhor não podia ser dada! Simonal vestiu a camisa e com a gravata amarrada na cabeça, aquele olhar malicioso, foi o maior dentre todos os pilantras do planeta, dentro do conceito citado acima. Mas quem chamar para essa nova parada? Talvez se outro cara tivesse chegado para nomes como Nonato Buzar ou o mítico César Camargo Mariano e dito: - Bora ser pilantras? Bora usar esse termo para nos auto-definir? Eu duvido que alguém teria topado, mas com o Imperial era diferente, o cara tinha credibilidade e estava acima do bem e do mal; e assim foi, Agora musicalmente falando, a a pilantragem começou meio que com um lance de mudar o compasso do samba e inserir elementos do Soul e do Rock. A sonoridade lembra muito o trabalho maravilhoso feito pelo grandioso músico e compositor, norte americano, Herb Alpert e a mágica orquestra "Tijuana Brass"; por conta da fartura dos instrumentos de sopro e a levada que é puro vigor. César, Simonal e Imperial; chegaram a chamar o gênero de "Samba Novo", mas eu concordo com eles, Pilantragem era bem mais legal e assim ficou. Nonato Buzar sequer acreditava no sucesso daquela novidade, mas Imperial acabou por o convencer do contrário e o músico assinou, dentre outras canções, a clássica "Vesti Azul", que é uma das interpretações mais clássicas da carreira do Simona. Para quem não acreditava heim, senhor Buzar... Quando Nonato viu o sucesso que era ser "Pilantra", abandonou os colegas com quem iniciou o movimento e criou o grupo "A Turma da Pilantragem", que contava com nomes como o de Cassiano. Fica a promessa de um dia publicar esse álbum. Enfim! Vou me ater ao álbum e explicar o por quê de toda essa volta. É simples, o nome do álbum já diz tudo e agora vem a cereja do bolo... O projeto foi capitaneado pelo grande saxofonista Paulo Moura, o próprio! Entrou na vibe sonora e juntou uma seleção de músicos, gente do naipe de Oberdam Magalhães (Banda Black Rio), Wagner Tiso (Som imaginário, Clube da Esquina...), Pascoal Meirelles (que gravou com grandes nomes como João Bosco...); Enfim! Realmente não se podia esperar algo diferente deste álbum, sensacional. Não tenho muito a dizer sobre o álbum, que é quase que todo instrumental; incluindo uma versão inusitada para a tradicional canção infantil "Terezinha de Jesus", coisa de gênio, de quem queria ousar e mostrar, de fato, transformar qualquer coisa em música de muita qualidade; e conseguiram. Esse é o tipo de trabalho que da para ouvir N vezes e não existe como enjoar.

Sugiro escutar inteiro e com tamanha atenção para cada detalhe, isso se o ritmo contagiante deixar e quando perceber, já estarás a dançar pela sala de casa. Como esse texto teve um tom mais intimista, mais "pilantragem" do que a maioria, aproveito e já me desculpo pelo meu tamanho e talvez imperdoável egoísmo; afinal assumo que demorei tempo demais para partilhar essa maravilha com vocês.

Uma última observação. Que capa interessante!

Faixas:

StartFragment01 – La Cumparsita (M. Rodrigues) 02 – El Relicário (Padilla) 03 – O Mandraque (Paulo Moura / Wagner Tiso) 04 – Terezinha de Jesus (Tradicional) 05 – La Mentira (Álvaro Carrillo) 06 – Tudo Azul (Paulo Moura / Wagner Tiso / Tibério Gaspar) 07 – Chiribiribim (Pestalozza) 08 – Barril de Chopp (L. Brown / W. A. Timm / J. Vejvoda) 09 – Correnteza (Antônio Adolfo / Tibério Gaspar) 10 – O Ébrio (Vicente Celestino) 11 – Meia Volta (Ana Cristina) 12 – Rosa (Dorival Caymmi) EndFragment

Músicos:

Darci da Cruz / Heraldo Reis: Trompete Oberdan Magalhães / Paulo Moura: Sax Cesário Constancio: Trombone Wagner Tiso: Piano / Órgão Luis Carlos: Baixo Pascoal Meirelles: Bateria Mailto: TumbadoraEndFragment


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