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Trio Mocotó - "Muita Zorra (...São Coisas que Glorificam a Sensibilidade Atual!)" - 1971


Fritz "Escovão" (o cara da Cuíca e vocal principal), João "Parahyba" (e sua inventiva bateria com uma timba no lugar do bumbo) e Nereu Gargalo (nos pandeiros e com aquela voz grave e pilantra, seguida de uma risada cínica e marcante); eis os caras que fizeram desse trio de formação atípica, um dos marcos do samba rock. O Trio foi formado no ano de 1968 na Boate "Jogral" (localizada na cidade de São Paulo), sendo inicialmente a banda de apoio, fixa da casa, chegando a acompanhar nomes como Clementina de Jesus, Cartola, Nelson Cavaquinho e até gringos do naipe de Duke Ellington e Oscar Peterson; sempre abrindo espaço para algumas canjas, onde Jorge Ben se tornou um visitante frequente, emprestando ao trio todo o "Samba Esquema Novo" de seu violão. A partir daí, surgiu a chance para assinar um contrato com a gravadora Philips e fluiu o grandioso, e infelizmente pouco reconhecido álbum, "Jorge Ben e Trio Mocotó - On Stage (1972)", repleto de sucessos da carreira de Jorge, mas agora em uma versão acompanhado apenas pelo super trio. O nome do Trio se deu a um fato curioso. Naquele período de transição da moda feminina, onde as antes roupas muito comportadas, começaram a dar lugar a saias menores, toda aquela influência gringa de uma Europa sessentista, os joelhos das moças passaram a ficar à mostra, sendo "popularmente" chamados de "mocotó", o que virou uma gíria. Os três camaradas, que de nada tinham de bobos, sempre brincavam e comentavam sobre o "mocotó" das moças aparecendo, daí rolou o nome de "Trio Mocotó"; mas sempre flui uma mensagem oculta e há quem diga que alguns usavam o termo para se referir a partes mais "íntimas"; mas enfim! Assim surgiu o nome... Em 1970 participaram do "V Festival Internacional da Canção", defendendo a canção de Jorge Ben, "Eu também quero Mocotó", executada por Erlon Chaves Y Banda Veneno. O grupo veio posteriormente a participar de antológicas gravações em álbuns de artistas como Vinícius e Toquinho em "A Tonga da Mironga do kabuletê" e de Chico Buarque em "Samba de Orly". A parceria junto a Jorge Ben seguiu, mas o som diferente do Trio começou a chamar a atenção de outros artistas, tanto que em 1974 um inusitado encontro aconteceu. O grande trompetista, estadunidense, Dizzy Gillespie que foi um dos grandes nomes do Jazz e um dos criadores do "Bebop" (uma das vertentes mais reconhecidas do Jazz) em um ambicioso projeto, juntou sua banda, alguns ritmistas brasileiros e o famoso Trio; a química foi perfeita e resultou no fantástico "Bebop no Samba", esquecido por mais de quatro décadas nas prateleiras da gravadora Philips, sendo lançado apenas após o ano de 2009, quando uma galera encontrou a fita master e talvez se perguntaram: - O que isso está fazendo parado aqui???? Após tudo isso, não demorou e o trio ganhou sua chance de seguir com as próprias pernas e eis o disco que trago hoje, "Muita Zorra (...São Coisas que Glorificam a Sensibilidade Atual!)", álbum de estreia e já assinado por ninguém menos que o grande maestro Rogério Duprat. O álbum conta com canções de grandes nomes da nossa música. Composições de Tim Maia, Antonio Carlos e Jocafi, Ivan Lins, Erasmo e Roberto Carlos, Jorge Ben; dentre outros, coisa de alto nível, ainda mais se tratando de um disco de estreia. A canção que abre os serviços é "Meu País - Tim Maia", é um claro "desabafo" de quem passou anos fora do Brasil, muito viveu, aprendeu, mas se orgulhava de estar de volta ao seu país, mesmo em meio a luta (certamente uma associação ao período dos anos de chumbo), onde aqui se sentia livre para pensar o que quisesse, citando o amor e a não distinção de cores... Infelizmente não há créditos para os músicos, mas fica o destaque para um belíssimo trabalho do piano. Está é a canção do álbum que fica mais longe das características que consagraram o grupo. Na segunda canção, "Xamégo De Iná", obra de Antonio Carlos e Jocafi, há uma guitarra rítmica bem presente, se começa a notar um Fritz aos poucos mais solto nos vocais e eis que a marca " Trio Mocotó" começa a surgir de maneira mais relevante. "O Criolauta" (Ivan Lins, Ronaldo Monteiro de Souza) sim! Aí é o Trio Mocotó e o Samba Rock começa a fluir, mais uma vez um piano maravilhoso e a condução perfeita da "bateria" de João Parahyba, o pandeirão do mítico Nereu Gargalo e uma cuíca, mesmo que ainda tímida, de Fritz dando o ar da graça de maneira mais efetiva. Daí pra frente é alegria, prova disso é a canção de Roberto e Erasmo "O Sorriso de Narinha", toda a quebradeira de "Esperança" (Jorge Ben, Yara Rossi); em "Maria Domingas" (também de Jorge Ben), flui aquela quebrada na swinguiera, em uma vibe bem próxima do som que faziam quando acompanhavam Jorge. "Nagó", a exemplo de grande parte da obra de Antonio Carlos e Jocafi é repleta de atabaques e plena ligação com os pontos de cultos afros, ao menos até a entrada da guitarra e de um sintetizador que faz uma ponte legal, dando à canção uma vibe meio psicodélica. Na minha opinião, temos na terceira faixa do lado B, "Só Quero" (Dal, Lilito e Tom), por meio de um andamento rápido, uma pegada que contagia; em especial para quem conhece a também belíssima versão, da mesma canção, gravada pela doce Evinha (no mesmo ano); e em "Coqueiro Verde", também da dupla Roberto e Erasmo, os pontos mais altos do álbum. "Isso é mocotó" (imagino a frase dita pela voz grave de Nereu Gargalo), nestas duas faixas, em especial, o samba rock chegou, ficou e o "Mocotó" fica mais do que exposto. Mesmo se tratando de um ótimo álbum, recheado de canções de medalhões da MPB, e sendo o clássico primeiro álbum do grupo, ficou a desejar a irreverência e as tiradas de Nereu Gargalo e a quase inexistente cuíca mágica de Fritz Escovão, aparecendo mas de maneira tímida, em especial levando-se em conta quem já viu vídeos de apresentações ao vivo dos caras. O grupo segue na ativa, mas hoje sem Fritz Escovão, que optou por sair, mas ninguém fica "despenteado", já que deu lugar ao multi-instrumentista Skowa (que fez parte do grupo "Skowa e a Máfia", conseguindo certo sucesso no final da década de 80). Músicas: A1 Meu País (My Country) – Tim Maia A2 Xamégo De Iná – Antônio Carlos, Jocafi A3 O Criolauta - Ivan Lins, Ronaldo Monteiro de Souza A4 O Sorriso De Narinha – Erasmo Carlos, Roberto Carlos A5 Esperança – Jorge Ben, Yara Rossi B1 Maria Domingas – Jorge Ben B2 Nagó – Antônio Carlos, Jocafi B3 Só Quero – Dal, Lilito, Tom B4 O Canto Da Ema – Alventino Cavalcante, Ayres Viana, João Do Vale B5 Aleluia, Aleluia (E Ainda Tem Mais) – Jorge Ben (Participação Especial – Jorge Ben) B6 Coqueiro Verde – Erasmo Carlos, Roberto Carlos


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