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Luiz Carlos da Vila - Um Cantar a Vontade - 2005


Luiz Carlos Baptista, se tornou "da Vila" por conta do samba, mas nasceu no bairro de Ramos, subúrbio da cidade do Rio de Janeiro. No ano de 1977, ganhou o "sobrenome" após ser incorporado a ala dos compositores da G.R.E.S Unidos de Vila Isabel, a mesma que tem filhos ilustres como Martinho da Vila e que recebe o nome do bairro conhecido por ser a "casa" de Noel Rosa. O "da Vila" realmente foi algo tão forte na trajetória do cantor/compositor, que acabou por residir no bairro da Vila da Penha, também localizado no Rio de Janeiro, apenas tornando mais forte o elo com o sobrenome que o acompanhou ao longo de toda sua carreira. Sua vida no samba começou a partir das visitas frequentes ao tradicional bloco carnavalesco Cacique de Ramos, que é conhecido por sua roda de samba ao "pé da tamarineira", que por muitos é vista como uma árvore mística e que à sua sombra, grandes nomes do samba foram revelados, como Zeca Pagodinho, Almir Guineto e o grupo Fundo de Quintal. Luiz é conhecido por fazer parte de uma geração de sambistas que mudou o estilo do samba, imprimindo a "estampa carioca" que tem atualmente, sendo contemporâneo de gente como Arlindo Cruz, Sombrinha, Jorge Aragão; dentre outros nomes, responsáveis pelo sucesso que hoje, mais do que nunca, o gênero mantém, sendo visto por todo canto espalhado em rodas por todo o Brasil. O álbum que apresento hoje é uma belíssima coletânea de sambas do compositor e de parceiros, gravado ao vivo como todo bom sambista gosta, onde Luiz com sua voz suave e melodiosa, de partideiro, encanta pela temática de suas letras e a cadência com a qual conduz cada canção, tornando o samba ainda mais envolvente. De dicção limpa e perfeita, mesmo em meio ao clima hipnótico que uma boa roda de samba por sí só já causa, não há como deixar de se atentar para a estrutura de suas letras, que sem sombra de dúvidas alçam Luiz Carlos da Vila a um patamar superior, mais do que sambista, um poeta. A primeira canção é a que talvez seja a mais conhecida de sua carreira, "Kizomba A Festa da Raça" (Rodolpho, Jonas e Luiz Carlos da Vila), sendo este o samba-enredo que levou a agremiação de Vila Isabel ao título do ano de 1988, no grupo especial do carnaval carioca. A segunda canção é um "Pout-pourri" que já faria com que todo o álbum viesse a valer a pena, "Romance dos Astros/ Arco Iris/ Oitava Cor", que na minha opinião reunem três das mais belas obras já compostas no universo do samba. Versos que encantam pela complexidade e ao mesmo tempo pela maneira como de fato retratam o amor. Podemos facilmente dividir o tema entre as três etapas que normalmente são estabelecidas entre o querer, a conquista e o ápice do vivenciar a incomensurabilidade do que só este sentimento é capaz de oferecer e só quem ama, ou já amou, seria capaz de compreender: I ato - "O querer..." Em "Romance dos Astros" (Bandeira Brasil e Luiz Carlos da Vila) a analogia utilizada para musicar o início do processo que conduz ao mais sublime dos sentimentos é por meio de uma relação estabelecida entre o sentimento que o sol (na figura masculina), nutre pela bela lua que a todo custo recusa a se render: "Sonhei que um dia O astro rei à Terra descia Secava as águas do mar e não mais anoitecia Só voltava a chover à noite e as estrelas Se a lua fosse a sua companheira Irredutivelmente ela dizia não E Saturno em vão ofereceu anéis Ela nem ligava para a estrela Dalva Nem ouvia a súplica dos menestréis E o sol ficava mais e mais abrasador Cego de amor, aí eu me queimei No auge da trama eu caí da cama O galo cantou, feliz eu acordei" II ato - "A constatação..." "Arco Íris" (Sombrinha e Luiz Carlos Da Vila) é uma ode à maneira como o sentimento se desenvolve, do ponto de vista que só os apaixonados são capazes de enxergar, que por meio de sua maravilhosa letra, revelam versos que derreteriam geleiras: "O teu sorriso é um arco-íris sobre o mar Onde havia escuridão O paraíso que eu estava a procurar A vida me revelou A realidade onde eu guardo e vou buscar Os delírios da paixão Tudo isso me invadiu E eu quero a permanência do invasor És o Astro que faz sentir Que eu estou sob a regência do amor (Cheiro de mato) Cheiro de mato na cidade Um luxo raro Tu me deste e eu sou O disparo de um colibri Que depois de tanto tempo vê a flor És o colo em que adormeci Despertei, vi um sorriso multicor" III ato - "O regozijo..." Por fim, em "Oitava Cor" (Luiz Carlos da Vila, Sombra e Sombrinha) os compositores fizeram associações que provam o quão grandioso é o amor verdadeiramente compartilhado e correspondido, mostrando sua tamanha grandiosidade em meio à inabalável alegria de quem já se encontra totalmente entregue, tornando tudo ao redor meras coisas vãs... "Mais é muito mais Que o calor de uma fogueira Os vendavais que abalam as cordilheiras Pois entre nós o amor não é de brincadeira, viu É ter a mão fruta do pé Do fundo de quintal Não é a emoção das nuvens de algodão Que vem e logo vão É muito mais que os carnavais Não acabam quarta feira E os nossos ais se perderam na poeira Pois entre nós o amor não é de brincadeira, viu É atração de amor e fé De um mundo sem igual Aquela emoção inteira Pois é assim o nosso amor Do arco-íris a oitava cor Num divino troféu Supra-sumo do mel, acalanto Me faz dormir em paz Pedra preciosa enfim que nos achou Que ficou mais rica Com o nosso amor Num divino troféu Para o menestrel E a cantar o amor que é mais Laia, laia, la laia, laia laia la" Por essas e outras me rendo à obra do artista e não canso de me perguntar o motivo pelo qual nunca teve o mesmo prestígio e reconhecimento de tantos outros, dentre estes alguns supracitados. Luiz Carlos da Vila faleceu no dia 20 de outubro do ano de 2008, vitimado por um câncer. Uma grande quantidade de homenagens, como de costume tardias, foram realizadas; inclusive por meio do governo do estado do Rio de Janeiro, que através de uma solicitação do jornalista e escritor Sérgio Cabral, pai do então governador do estado, uma escola localizada no bairro de Manguinhos foi batizada com o nome do sambista. O álbum em um todo é lindo, capaz de saciar a todos os amantes do samba e àqueles que tem a sensibilidade de reconhecer o que é uma simples música e o que é poesia musicada, sendo o segundo caso enquadrado perfeitamente na obra que Luiz Carlos nos deixou e há de perpetuar por toda a eternidade... Faixas:

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EndFragment1 - Kizomba, Festa da Raça - (Rodolpho-Jonas-Luiz Carlos da Vila)

2 - Pout-Pourri -

- Romance dos Astros - (Cléber Augusto-Luiz Carlos da Vila-Bandeira Brasil) - Arco Íris - (Élio Camalle-Léo Nogueira) - Oitava Cor - (Sombrinha-Sombra-Luiz Carlos da Vila)

3 - Além da Razã0 - (Sombra-Sombrinha-Luiz Carlos da Vila)

4 - Por um Dia de Graça - (Luiz Carlos da Vila)

5 - Pout-Porri

- Amor, Agora Não - (Luiz Carlos da Vila-Sombrinha)

- Fogueira de Uma Paixão - (Luiz Carlos da Vila-Arlindo Cruz-Acyr Marques)

6 - Doce Refúgio - (Luiz Carlos da Vila)

7 - Os Papéis - (Luiz Carlos da Vila-Wilson das Neves)

8 - O Sonho Não Acabou - (Luiz Carlos da Vila)

9 - Pout-Pourri

- Um Samba Para Lili - (Luiz Carlos da Vila-Jane)

- Sem Endereço - (Arlindo Cruz-Luiz Carlos da Vila)

10 - Horizonte Melhor - (Luiz Carlos da Vila-Adilson Victor)

11 - Um Samba que nem Rita à Dora - (Luiz Carlos da Vila-Jane)

12 - Notícia - (Nelson Cavaquinho-Alcides Caminha-Nourival Bahia)

13 - Nas Veias do Brasil - (Luiz Carlos da Vila)

14 - O Show tem que Continuar - (Sombrinha-Arlindo Cruz-Luiz Carlos da Vila)


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