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Paêbirú - Lula Côrtes e Zé Ramalho - 1975


Paêbirú não é um disco comum. Não digo isso no que se diz respeito apenas à qualidade ou sonoridade, que dispensam comentários, mas sim por toda a mística história que deu origem a esta pérola da música brasileira. Tornou-se um album tão raro, tendo em vista que apenas 1300 cópias foram prensadas e dessas, 1000 foram perdidas juntamente com a fita master; que hoje é tido como o álbum mais caro da música popular brasileira. Quem quiser ter um exemplar, dos que foram relançados pelo selo inglês "Mr Bongo", pagará em média o valor de quatro mil reais, mas para aqueles que buscam por um dos 300 exemplares que sobraram da prensagem original, encontrará à venda por valores que atingem os onze mil reais. Acreditas? Sim! Acredite, pois é verdade! Tido como o álbum mais psicodélico da nossa música e recheado de místicas, mistérios e muito ocultismo; ganhou o status de "O álbum maldito". Nada que Zé Ramalho faz é por acaso. Sempre há uma mensagem subliminar, ufologia, viagens lisérgicas, telepáticas; dentre outras pirações. Exemplo disso é a canção Avohai. Não consta neste álbum, mas ouça com bastante atenção, uma, duas; vinte vezes; já que o artista associa essa música a algo extremamente transcendental, chegando a dizer que não foi composta, mas sim que foi por algo, ou alguma coisa, sussurada em seu ouvido e ao chegar em casa e ver um quadro em que tinha uma pedra de turmalina, eis que a obra saiu todinha. O disco que contém está canção, foi o primeiro da carreira de Zé e contou com a participação de Patrick Moraz, que foi tecladista da banda britânica de rock progressivo, "Yes". A vida músical de Zé Ramalho começou com um grupo formado junto com colegas de colégio e já carregava o instigante e macabro nome de "Elis e os Demônios", grupo este que durante algum tempo animou bailes, tomado de suas influências que iam desde Marinês e Luiz Gonzaga, até a galera da Jovem Guarda. Tido como "estranho e cabeludo", Zé Ramalho serviu ao exército, foi obrigado a cortar o cabelo e reza a lenda, usava perucas para nos fins de semana subir nos palcos e manter a mesma vibe de doidão, ostentando a cabeleira que na verdade sequer tinha mais. Em meio a tudo isso conheceu Alceu Valença, com quem passou a tocar, viajar, expandir os horizontes, ficou vidrado no que viu no festival "Woodstock", já que li em algumas entrevistas que Zé Ramalho viu o filme uma quantidade imensa de vezes e creio que assim, em meio a esse deslumbre com a cultura hippie, drogas, paz, amor e viagens ultra loucas; começava a se desenhar o estilo pecualiar do artista solo que viria a ser posteriormente. A outra mente da obra, Lula Cortês, que era cantor, compositor, pintor e poeta; pernambucano e foi um dos primeiros caras a levantar a bandeira de que rock e gêneros tipicamente nordestinos, podiam andar lado a lado e que daria em lances legais. A exemplo de seu parceiro, Zé Ramalho, Lula Cortês também realizou ótimos trabalhos, mas talvez por ter se mantido mais fiel à sua vertente musical, a pureza de sua obra e a não ter cedido à mídia; não alcançou o mesmo sucesso, vindo a falecer no ano de 2011, acometido por um câncer de garganta, sem ter tido o reconhecimento merecido e sequer ter visto sua maior obra, ao lado de Zé ramalho, ter hoje o status de suprassumo cult. A base do álbum é todo o mistério que gira em torno da famosa "Pedra do Ingá", monumento arqueológico, repleto de inscrições rupestres entalhados na rocha. Localizada na cidade de Inga/PB. O artista plástico Raul Córdula, ao se tornar amigo de Zé Ramalho, o convidou para conhecer a tal pedra, com a promessa de que veria algo que jamais teria imaginado, nessa mesma viagem, Lula Cortês estava presente. Daí surgiu a ideia de em forma de música, tentarem mostrar a visão que tinham de tudo o que foi visto, sendo que ninguém, ao menos até então, compreendia tudo aquilo, mas todos ficavam maravilhados em ver. A dupla resolveu embarcar nessa vibe e certamente tomados pela onda de todos os entorpecentes que Zé Ramalho nunca sequer negou ter usado e abusado, as ideias começaram a brotar. Assim surgiu "Paêbirú", essa "tradução" do que seria aquele importante marco da ancestralidade brasileira em terras nordestinas, como já dito, pelo ponto de vista dos caras. Eles acamparam por lá e a ideia do álbum tomou formas, bem ali naquele lugar "místico" e que até hoje Zé Ramalho assume visitar vez ou outra e pensar sobre alienígenas, naves, colonização terráquea por seres de outros planetas e por aí vai. No disco se ouve de tudo! Desde um clima altamente "viagem ao centro da Terra", passando pelo rock psicodélico, jazz, sonoridades altamente regionais, frases e grunhidos que não se consegue entender e muita, muita musicalidade. Muito do disco aborda os temas já citados, mas ainda houve espaço para mais. Além de ser um álbum duplo - dividindo cada lado dos vinis entre "Terra", "Ar", "Fogo" e "Ar" - sobrou espaço para momentos inteiros dedicados à "Sumé", que é uma antiga entidade da mitologia indígena, que segundo reza a lenda, esteve entre os povos e foi quem os ensinou atividades como fazer fogo, a tratar a agricultura e tornar uma atividade de suma importância para a vida das aldeias, além do conceito de estrutura social. A entidade é tida como um Homem branco, que apareceu antes mesmo dos portugueses, e tinha cabelos e barba branca, além de flutuar. Um álbum altamente conceitual, experimental e que não a toa é hoje uma mina de ouro, tanto no sentido financeiro, tendo em vista os valores já citados, mas também pela linha que segue e as mil e uma surpresas que reserva a aqueles que silenciam e ouvem toda a obra. Uma quantidade imensa de instrumentos foram utilizados nas gravações, dando justamente por isso esse conceito de versatilidade musical, tornando o álbum longe de toda e qualquer margem ao que se possa ser tido como algo previsível, em nenhum momento. Arranjos lindos, execuções instrumentais primorosas, letras que são capazes de te levar do sertão para marte com escala em uma aldeia indígena; uma obra daquelas que é impossível de ser refeita, copiada e que seria herege tentar mudar sequer uma vírgula. Só ouvindo para entender, sendo que o seu entendimento pode ser diferente do que teve todas as outras tantas pessoas que já ouviram. Se Zé Ramalho e Lula Cortês não conseguiram traduzir na integra o que as pinturas rupestres significavam, sem dúvidas uma coisa conseguiram, nos levar até lá sem que haja a necessidade de ir de fato até o local, mas tirar por meio das canções uma conclusão própria, única e intransferível do que podem ser aquelas mensagens. Faixas:

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Lado TERRA
  1. "Trilha de Sumé"/"Culto à Terra"/"Bailado das Muscarias"

Lado AR
  1. "Harpa dos Ares" (Geraldo Azevedo/Côrtes/Ramalho)

  2. "Não Existe Molhado Igual ao Pranto"

  3. "Omm"

Lado FOGO
  1. "Raga dos Raios"

  2. "Nas Paredes da Pedra Encantada, Os Segredos Talhados Por Sumé" (Marcelo/Côrtes/Ramalho)

  3. "Maracás de Fogo"

Lado ÁGUA
  1. "Louvação à Iemanjá"/"Regato da montanha"

  2. "Beira mar"

  3. "Pedra Tempo Animal"

  4. "Sumé"

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