Vinicius de Moraes e Baden Powell - Os Afro-Sambas - 1966
- jonnnasci
- 12 de mar. de 2016
- 3 min de leitura

Baden Powell foi sem dúvidas um dos maiores violonistas não só do Brasil mas do mundo, sendo alçado por muitos ao status de lenda; com méritos. Compositor de grandes clássicos da nossa música, como é o caso de "Berimbau", "Consolação"; assim como outras canções imortalizadas nas vozes, também, de outros interpretes. Creio que maiores apresentanções sobre a obra de Baden sejam desnecessárias. Seria um tanto quanto redundante citar todo o seu talento e maneira única de tocar, mas esse álbum que é o segundo em parceria com o "poetinha" Vinícius de Moraes, soa de maneira diferente. Trata-se de um álbum que pode ser tido como um divisor de águas, tal qual "Chega de Saudades" que fez de João Gilberto o "inventor" da Bossa Nova. Em "Os Afro-Sambas", Baden conseguiu incorporar à nossa música claras influências de elementos presentes em sonoridades que remetem a religiosidades e cultos africanos. Segundo relatos do próprio Vinícius, o que deu origem a ideia que gerou essa obra, foi o contato que teve com "sambas de roda" da Bahia, pontos de candomblé, berimbaus e outros elementos; por meio do maestro Carlos Coqueijo. O poetinha se encantou com o que ouviu, assim comoo Baden, que por sua vez acabou também por ter contato com essas sonoridades em uma de suas visitas à Bahia, absorvendo um pouco de tudo que ouviu e pronto! A junção de dois gênios e o deslumbre em comum pela mesma onda, fez com que a dupla realizasse esse explêndido trabalho, gravado no ano de 1966. A magnífica obra já começa com um inspiradíssimo violão de Baden, tecendo a introdução para "Canto de Ossanha", cantado pela suave voz de Vinícius, em dueto com o "Quarteto em Cy" e a participação especial da atriz Betty faria. Destaque para a flauta de Nicolino Cópia (Copinha). Dava para começar melhor? Acho que não... O álbum segue com "Canto de Xangô" que deixa ainda mais clara a influência de religiosidades afros, não só pela letra, mas pelo andamento da música e a marcação, tendo uma forte presença de atabaques, afoxês e agogôs; criando toda a temática oriunda dos terreiros de candomblé. Estes elementos também se encontram muito forte nas canções "Bocoché", que faz uma bela fusão com um saxofone barítono, flauta e um saxofone tenor; assim como "Canto de Iemanjá". Em "Canto do Caboclo Pedra-Preta", é perceptível a influência dos sambas de roda típicos da Bahia. Na canção "Tristeza e Solidão", a dupla não nega uma de suas maiores origens, a Bossa Nova, mas claro que com elementos que assim como em toda a obra, acabam por remeter aos cultos afros. Destaque para o belíssimo coro feito pelo "Quarteto em Cy", além das belíssimas melodias extraídas por Baden Powell e a condução perfeita da bateria de Reisinho. "Lamento de Exu" é um tema instrumental, onde todo o virtuosismo de Baden Powell é colocado em prática, contando apenas com alguns poucos vocalises, do "Quarteto em Cy", encaixados cirurgicamente ao longo da canção. Deixei para o final a canção que na minha opinião é a mais bela do álbum, "Tempo de amor". Baden, mais uma vez, mostrando o motivo pelo qual ainda hoje é considerado um dos melhores instrumentistas de todos os tempos, unido ao poetinha falando de amor, com a propriedade que poucos até hoje tem ou tiveram, para abordar esse tema. O álbum é maravillhoso, mas também não tinha como ser diferente, a junção de um poeta e um super instrumentista; Só ouvindo para entender...
Músicas:
1- Canto de Ossanha
2- Canto de Xangô
3- Bocoché
4- Canto de Iemanjá
5- Tempo de Amor
6- Canto do Caboclo Pedra-Preta
7- Tristeza e Solidão
8- Lamento de Exu
(Todas as canções compostas por Baden e Vinícius)
Músicos:
Vocais: Vinicius de Moraes, Quarteto em Cy e Coro Misto
Sax tenor: Pedro Luiz de Assis
Sax barítono: Aurino Ferreira
Flauta: Nicolino Cópia
Violão: Baden Powell
Contrabaixo: Jorge Marinho
Bateria: Reisinho
Atabaque: Alfredo Bessa
Atabaque pequeno: Nelson Luiz
Bongô: Alexandre Silva Martins
Pandeiro: Gilson de Freitas
Agogô: Mineirinho
Afoxé: Adyr Jose Raimundo
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