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Banda Black Rio - Maria Fumaça - 1977


Assumo que há tempos tenho vontade de postar aqui esse álbum, mas sempre estive ciente da tamanha responsabilidade que seria.

Não sei dizer ao certo quantas milhares de vezes já o ouvi (não se trata de uma hipérbole), sendo que me lembro de ver esse vinil na estante de minha casa, desde os meus sete, oito anos de idade. De lá para cá muitos anos se passaram e sigo ouvindo com o mesmo entusiasmo que senti quando pela primeira vez o escutei com um conceito musical mais apurado.

A "Banda Black Rio" era liderada pelo saxofonista Oberdan Magalhães e é resultante de um grupo de músicos, onde alguns acompanharam Dom Salvador nas gravações do álbum "Som, sangue e raça" (já publicado aqui no site), assim como também fizeram parte do embrião que deu origem ao grupo Azymuth.

A banda carrega o nome do movimento iniciado nos idos da década de setenta, que visava conscientizar os marginalizados, em especial negros, moradores da periferia, conforme artigo já publicado no site; mas o intuito agora é tentar, mediante a complexidade técnica do álbum, realmente falar apenas do ultra som que os caras faziam juntos.

O álbum é uma usina de grooves em plena sintonia com o samba e outros ritmos brasileiros, unidos ao vigor dos arranjos de metais, detalhes minunciosos que são tipicamente jazzísticos; o que gera uma base sólida do que é o funk/soul à brasileira.

A galera que gravou era da pesada. Todos músicos com M maiúsculo e uma fusão daquelas raras, onde tudo se encaixava perfeitamente e apenas sete caras eram capazes de soar como uma Big Band.

A trupe era formada pelo já citado Oberdan Magalhães(Saxofone), Luis Carlos Santos (bateria/percussão), Lucio J da Silva (trombone), Barrosinho (trompete), o mago do swing Claudio Stevenson (violão/guitarra), o grande pianista e arranjador Cristovão Bastos e o onipresente Jamil Joanes (baixo); que tem mais de mil registros de gravações com outros artistas que vão de Rita Lee, passando por Gal Costa, Maria Bethânia, Ney Matogrosso, Luiz Melodia, Caetano Veloso, Leila Pinheiro, Jorge Ben, João Donato e mais uma infinidade de grandes nomes da nossa música.

"Maria Fumaça" é 100% instrumental, variando entre momentos ultra dançantes, em que é difícil não se deixar envolver pelo frenesi que torna impossível se manter inerte, assim como proporciona momentos em que paira toda uma atmosfera soul romântica, lembrando alguns clássicos da gravadora norte-americana Motown.

A "Banda Black Rio" reinventou todos os conceitos que até então se tinha sobre Black Music no Brasil, foram pioneiros em compor sonoridades que sempre vão soar como únicas, independente de toda e qualquer tecnologia disponível hoje à serviço do mercado fonográfico.

A música que da nome ao álbum, alcançou tamanho sucesso que foi utilizada como tema de abertura da novela global "Locomotivas (1977)", aliás, nada mais propício, o álbum é uma locomotiva desgovernada a serviço da boa música.

Tamanha a versatilidade do álbum e a veia criativa da banda, que conseguiram desconstruir o clássico de Ary Barroso "Na Baixa do Sapateiro" transformando em algo que nada lembra o típico samba dos anos 30, que fez enorme sucesso na voz da pequena notável Carmen Miranda e seu "Bando da Lua". A Black Rio fez a canção pulsar de maneira única, contando com toda a metaleira que era marca da banda, Claudio Stevenson mandando ver com seu pedal "Wah Wah", Jamil Joanes em uma de suas mais maravilhosas linhas de baixo, de fundo o pianão de Cristovão Bastos e uma variação de andamento, onde surge um triângulo e da um toque de nordestinidade á música.

Outra canção que ganhou uma releitura de respeito, foi "Baião", clássico do rei Luiz Gonzaga.

Os metais fazendo a levada original da canção, com as intevenções sempre muito precisas da guitarra de Stevenson, Jamil Joanes destruíndo o contrabaixo e um novo jeito de tocar e dançar o baião.

"Casa Forte", belíssima composição de Edu Lobo, também ganhou um jeito "Black Rio" de ser executada. Destaque para os sintetizadores de Cristovão, novas variações rítimicas e até um agogô, em determinado trecho, dando ares de samba-funk.

Da formação original, infelizmente a maior parte dos músicos já são falecidos (Claudio Stevenson, Barrosinho, Luis Carlos Santos e Oberdan Magalhães), tendo o filho do último citado, o pianista William Magalhães, voltado com a banda no início dos anos 2000, com uma nova formação; o que causou uma série de problemas com os familiares dos demais membros originais falecidos.

A banda chegou a lançar outros álbuns, entre o final da década de 70 e início da década de 80, mantendo o mesmo nível de qualidade, mesmo sofrendo variações em sua formação original, mas ouvir "Maria Fumaça", o clássico, o melhor trabalho da banda; será uma experiência única!


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