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Quarteto Novo -1967


Me lembro como se fosse hoje, do estado de catatonia em que entrei na primeira vez que ouvi esse álbum, coisa de uns 10 anos atrás.

O Quarteto novo, que antes se chamava "Trio Novo", formado por Theo de Barros (contrabaixo e violão); Heraldo do Monte (viola e guitarra); e Airto Moreira (bateria e percussão); Foi criado para acompanhar o cantor Geraldo Vandré (com quem nem de longe tiveram a chance de expor toda a musicalidade contida nesse álbum), até mesmo que para que o antes "Trio" virasse "Quarteto", foi necessária a entrada de ninguém mais, ninguém menos, que o "Bruxo" Hermeto Pascoal; e aí sim o elemento que faltava para completar a sonoridade deste álbum, único lançado pelo grupo, estava completa.

O grupo chegou também a acompanhar Edu Lobo e Maria Medália, no 3º Festival de Música Popular Brasileira, com a canção "Ponteio", que diga-se de passagem, saiu vitoriosa.

A sonoridade experimental e cheia de elementos de genêros oriundos do nordeste, a magia extraida das cordas de Heraldo e Theo de Barros, a percussão e a bateria do mundialmente conhecido Airto Moreira e o toque do que viria a se tornar o "jeito Hermeto de fazer música'; certamente colocam esse álbum na estante das grandes obras instrumentais produzidas por um grupo brasileiro.

A flauta de Hermeto e o show proporcionado pelas modas de viola, são pontos altíssimos dessa maravilha sonora, assim como a grande variedade de instrumentos de percussão utilizados por Airto, tudo na dosagem certa, gerando o resultado que se pode ouvir,

O disco começa com a canção "O Ovo" que tem como destaque a inquieta flauta de Hermeto, em determinados momentos com dobras lindas executadas junto ao virtuosíssimo Heraldo do Monte, em outros momentos com o contrabaixo de Theo e o triângulo de Airto que é o único instrumento rítimico utilizado em toda a canção.

Nas faixas "Fica Mal com Deus", "Canto Geral" e "Algodão, segue o show de harmonia e o casamento perfeito dos instrumentos em prol do regionalismo nordestino empregado nestas canções, mas sempre com toques diferentes e elementos inusitados que dão todo o valor que a obra tem e merece ter. Na segunda canção há um vocalize distante e muito bem executado que só agrega valor a está maravilha.

Eis que começam as surpresas. Ao virar o álbum, tudo muda. Os genêros nordestinos dão lugar a temas mais variados, A canção que abre o lado B "Canta Maria", ainda guarda um pouco dos elementos predominantes do lado A.

A partir de "Sintese, a coisa muda de figura. Airto Moreira deixa a percussão de lado e assume a bateria, Hermeto guarda por alguns minutos a flauta e cai pra dentro do piano e Theo de Barros assume o contrabaixo e enfim Heraldo assumindo sua guitarra semi-acústica, de onde saem sonoridades impressionantes. A canção começa com ares de samba jazz (com direito a uma dobra linda), mas as variações de tempo e andamentos são "à moda da casa" e tudo se transforma novamenete. Em determindo momento, Heraldo volta para a viola caipira com um solo lindo, limpo, notas executadas com tamanha precisão; Perfeito!

Daí pra frente, camarada, espere de tudo! Chegamos aos pontos mais altos do álbum.

A canção "Misturada", em tudo tem a ver com o nome. Hermeto volta para a flauta, mas com uma pegada muito mais agressiva e tem direito a um solo imenso de bateria do mestre Airto Moreira, seguido por um solo de Hermeto, que durante todo o momento é muito bem acompanhado pela guitarra genial de Heraldo, ele é o mago das cordas, a semi-acústica fala nas mãos dele.

"Vim de Santana" é o ápice e grande absurdo do álbum. A canção é iniciada com a marcação da bateria de Airto e uma levada de baixo de Theo, até que entram o piano de Hermeto e a guitarra de Heraldo; mas como um passe de mágica, do nada eis que surge o som do violão de Theo, acompanhado da flauta de Hermeto, em um tom ameno; mas em fração de segundos se ouve novamente Hermeto no piano e na velocidade da luz Theo volta para o contrabaixo, iniciando uma dobra entre os quatro e bam! Um solo avassalador da guitarra de Heraldo, em momentos acompanhado pelo baixo de Theo, mas não adianta; o solo de Heraldo é lindo demais, com um Airto fazendo uma cozinha espetacular com o contrabaixo de Theo e um Hermeto que antes só fazia a cama, começa a solar, daí vem um solo de Airto, e... e... e... Nesse momento se perde o ar, se tem a certeza de que executar essa canção ao vivo, apenas pelos quatro, seria humanamente impossível e sua cabeça já estará em outro plano astral.

No ano de 1993, a obra foi relançada, contando ainda com as faixas bônus "Ponteio" (Edu Lobo) e "Cantador" (Dori Caymmi).

O álbum é uma pintura! Uma aula de técnica, desses músicos maravilhosos e multifacetados e vale ter na estante, mesmo que digital. Ouça e viaje no som dos caras....

Faixas:

Parte A 1. O Ovo (Hermeto Pascoal) 2. Fica mal com Deus ( Geraldo Vandré) 3. Canto Geral (Hermeto Pascoal) 4. Algodão (Luiz Gonzaga/ Zé Dantas) Parte B 1. Canta Maria (Geraldo Vandré) 2. Síntese (Heraldo do Monte) 3. Misturada (Geraldo Vandré/ Airto Moreira) 4. Vim de Santana (Théo de Barros)

Músicos:

Théo de Barros- violão e contrabaixo Heraldo do Monte- guitarra e viola caipira Airto Moreira- bateria e percussão Hermeto Pascoal- piano e flauta


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