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Taiguara - Imyra, Tayra, Ipy, Taiguara - 1976


Há muito a se dizer sobre está obra de arte em forma de sonoridade, daquelas que invadem os ouvidos pela qualidade harmônica. Esse álbum teria tudo para ser "apenas" mais um grande clássico da nossa música, mas "N" histórias o transforma em mais do que música, mas sim a certeza de que a censura realmente encarava a mente, mais do que pensamente, deste uruguaio de nascimento, mas brasileiro de coração, como uma ameaça.

Taiguara certamente era encarado como uma ameaça pela censura, pelo simples fato de conseguir de maneira inteligente mostrar toda a sua indignação com o momento em que nosso Brasil (e também dele) viveu durante os anos de chumbo.

Uma infeliz curiosidade sobre este álbum é que o espetáculo de lançamento teve que ser cancelado e após apenas 72 horas, todas as cópias, a mando da militares, foram recolhidas das lojas, apenas comprovando o que hoje temos certeza, Taiguara foi SIM o artista mais perseguido pela ditadura, onde muitas das canções deste álbum, foram creditadas à sua então esposa, Gheisa, para driblar a censura.

Esse álbum me soa muito intimista, desde o título que leva o nome de sua filha "Imyra", até a maneira como em canções como "Terra das Palmeiras" que é uma das canções mais fortes e direcionadas ao terror imposto pelo regime militar, o artista conseguiu, com êxito, mostrar a infeliz realidade vivida naqueles tempos, onde "calaram o sabia" por meio da força bruta..

A canção "Situação" merece ser ouvida não só uma vez, mas muitas, para que se possa admirar essa letra que é um canto em prol da liberdade, naquele momento cerceada de maneira tão covarde, dura e tacanha.

Na canção que da nome ao álbum, Taiguara transborda musicalidade, em conjunto com a seleção de instrumentista que participou da gravação deste álbum.

Tamanha a versatilidade do artista e grandiosidade da obra, que o tema instrumental de nome

"A volta do Pássaro Ameríndio" é uma aula de harmonia, fazendo o que bem quis das variações de compasso e proporcionando uma cadência forte e pulsante, daquelas que ficam por horas, dias, anos ou uma vida inteira martelando na mente de quem a ouve.

Fica também destaque para a belíssima "Samba das Cinco", que é a prova cabal de que Taiguara era na verdade um carioca, creio que daqueles que hoje aplaudiria o pôr do sol no arpoador, fazendo parte do coro de todos os que vivenciam esse momento sublime, frequentaria a Lapa, beberia uma cervejinha em Santa Teresa, seria figura fácil nas boas rodas de samba; e faria tantas mil outras coisas que é uma vergonha um carioca dizer que nunca fez, mas ele como bom carioca que era, certamente teria feito, deixando a certeza de que Taiguara foi muito mais brasileiro do que muitos cariocas, paulistas, mineiros, gaúchos e tantos outros indíviduos que de fato nasceram dentro da zona que vai do Oiapoque ao Chuí.

Ouça essa obra ao menos duas vezes, a primeira para se deixar viajar pela sonoridade instigante e uma segunda audição para se atentar a cada trecho, cada frase, cada palavra; e entender quem foi Taiguara, o quão injustiçado foi e toda a sua importância para a história da nossa música

Neste ano de 2015, Taiguara completaria 70 anos (o cantor faleceu no ano de 1996, vitimado por complicações causadas por um câncer na bexiga), mas sua obra vive e precisa a todo custo ser conhecida e reconhecida...

Faixas: A1 - Pianice (Pecinha Sinfônica)

A2 - Delírio Transatlântico e Chegada no Rio A3 - Público A4 - Terra das Palmeiras A5 - Como em Guernica A6 - A Volta do Pássaro Ameríndio A7 - Luanda, Violeta Africana

B1 - Aquarela de um País na Lua B2 - Situação B3 - Sete Cenas de Imyra B4 - Três Pontas B5 - Samba das Cinco B6 - Primeira Bateria B7 - Outra Cena

Músicos:

Taiguara - voz

Hermeto Pascoal - flauta

Toninho Horta - violão, guitarra

Nivaldo Ornelas - saxofone

Wagner Tiso - piano

Mauro Senise - flauta

J.T. Meirelles - flauta

Raul Mascarenhas - flauta

Netinho - flauta

Macacheira - trombone

Novelli - baixo

Zé Eduardo Nazário - percussão

Paulo Braga - bateria

Jaques Morelenbaum - violoncelo

Ubirajara Silva - bandoneon

Lúcia Morelenbaum - harpa


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